Não há harmonia mais perfeita do que entre uma pessoa e seu cachorro; eles nos amam,nos entendem,nos percebem.Não fazem perguntas,nem exigências.Copiam até nossos temperamentos:donos dóceis e amistosos,cachorros,idem;donos agressivos,cachorros agressivos;eles gostam e fazem festa para nossos amigos e arreganham os dentes para qualquer desconhecido que se aproxime.
Bob,o fox-terrier de Lalá não era diferente.Foi-lhe presenteado pelo noivo,o Dr.Eulálio,hoje seu marido, e, criado como filho pelo casal,que aliás,há exatos dois anos esperava a visita da cegonha,mas a distinta senhora não aparecia e o Bob continuava reinando soberano.
Há muito, a lua de mel estava indo para a minguante e a vida de Lalá era um tédio só.
Livre da rotina caseira pela fortuna e posição,passava o dia lendo romances melosos e sonhando com amores avassaladores,daqueles que literalmente levam á loucura.
Foi passeando no parque que conheceu Geninho, moço alegre,riso bonito,afável e,com um bigodinho á La Errol Flynn,simplesmente irresistível.
O moço tinha fama de namorador, mas,Lalá saía pouco e nada sabia de fofocas de bairro.
O romance começou tão logo trocaram os primeiros olhares; em poucos dias,com muito cuidado,Geninho era introduzido na honrada casa do Dr.Eulálio,enquanto este mourejava no Ministério das Relações Exteriores,confiante como uma freira. Soubesse lá ele a qualidade das relações interiores que se passavam na sua cama e as coisas se complicariam muito,já que ele não parecia homem amante de chifres.
No princípio, o problema foi Bob;
todas as vezes que o Geninho entrava,ele enlouquecia:rosnava,ladrava alto,num desespero que acordava a rua toda;não contente com isto,avançava no Geninho,mordendo-lhe as pernas e rasgando-lhe as calças da moda que á mãe tanto custava comprar.Essa estória tinha que acabar ou o cachorro poria o caso no mato.
À custa de muitas guloseimas, carinhos feitos á medo e da constância das visitas,Bob acabou por se acostumar com o rapaz;passou dos latidos irritantes ás festas que nossos cachorros fazem ás pessoas queridas dos seus donos.
Tudo ia ás mil maravilhas, não fosse o capricho das mulheres;pois,a Lalá meteu na sua cabecinha linda e oca,que,marido e amante tinham que ser amigos;ela precisava disto,era como se o marido abençoasse essa situação,como se ele desse o “nihil obstant” a essa pouca vergonha:amava os dois e não queria perder nenhum.Eis como funciona a cabeça de algumas mulheres.
Lalá era rápida do pensamento á ação; numa festa no Ministério,passou um convite ao amante e,aproveitou para apresentá-lo ao marido;trocaram dois dedos de prosa,formou-se um grupo de colegas do doutor e este aproveitou para convidar os amigos para o jantar que daria no aniversário da esposa,daí há quinze dias.O Geninho,claro,foi incluído no convite.
O dia festivo chegou, jantar para vários íntimos,o doutor conversava animadamente com seu amigo Paulo Miranda,quando chegou,elegante como um modelo,o nosso Geninho.Ao avistá-lo,Bob,penteado,lustrado e embonecado,atravessou correndo toda a sala,como um bólide e veio lamber,pular nas pernas e afagar o Geninho,como só os cães sabem fazer com os amigos mais queridos e íntimos da casa.
Num átimo ,o doutor compreendeu o que todos já sabiam.Corrido de lá como um bandido,o Geninho,envergonhado,mudou de cidade,embarcando para o Rio,no primeiro vapor.Quanto a Lalá,expulsa de casa naquela mesma hora,nunca mais se soube dela.
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Muito legal,Miriam!!rsrsr
ResponderExcluirAdorei! beijos,chica
Bem dizia o Vinícius de Moraes que o melhor amigo do homem é o uisque. Segundo ele, o uisque é o cachorro engarrafado. Ótima, hilária esta crônica, amiga! abraços. Paz e bem.
ResponderExcluirMuito bom, mãe.
ResponderExcluirTambém fiz uma homenagem a nossos melhores amigos no meu blog.
Bjs