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sábado, 3 de setembro de 2011

UM POEMA DE JORGE DE LIMA: NÊGA FULÔ











Essa Negra Fulô

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô

Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!

vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!

Essa negra Fulô!

"Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco".

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou".

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?

— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!

O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa,

O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?

Essa negra Fulô!




Jorge de Lima nasceu em União dos Palmares (AL), em 23 de abril de 1893. Filho de José Mateus de Lima, um senhor de engenho, e de Delmina Simões de Mateus de Lima. Cursou parte do primário no município natal, e viria a ser completado no Instituto Alagoano, em Maceió. Transferiu-se para o Colégio Diocesano de Alagoas, onde completou os “preparatórios”. Iniciou, em 1911, a faculdade de Medicina, em Salvador BA, concluindo-a em 1915, no Rio de Janeiro. Ainda em 1915 retorna a Maceió para exercer a medicina. Em 1919, elegeu-se Deputado Estadual pelo Partido Republicano de Alagoas, assumindo a Presidência da Câmara por dois anos. Em 1930, transferiu-se para o Rio de Janeiro por desavenças políticas, e ali na Capital exerceu a clínica médica e foi professor de Literatura Brasileira na Universidade do Brasil. O seu consultório na Cinelândia tornou-se famoso como centro de reunião de intelectuais e amigos. Após a queda do Estado Novo, militou na política, elegendo-se vereador no antigo Distrito Federal, pela UDN. Em 1944, candidatou-se sem êxito à Academia Brasileira de Letras. Em 1952, é fundada a Sociedade Carioca de Escritores (SOCE), da qual foi o primeiro presidente provisório. Faleceu em 15 de novembro de 1953 após longa enfermidade.
Injustamente, Jorge de Lima anda esquecido, mas venerado por especialistas e leitores mais bem informados. Ana Maria Paulino, em sua obra: JORGE DE LIMA, por Ana Maria Paulino. São Paulo: Edusp, 1995. (Col. Artistas Brasileiros, 1) atribui o fato ao “epíteto de “poeta cristão” a ele dedicado e a qualidade de “poesia religiosa” conferida a seus versos” que teria afastado “deles o leitor dos anos 60. Leitor mais interessado em obras cujo tema abordasse o momento político-social vivido pelo país.” E atualmente? A poesia atual descolou-se de ismos e se enveredou por caminhos heterodoxos, mas Jorge Lima é sempre uma referência para poetas jovens, a notar por sua presença em blogs e revistas eletrônicas.


*Texto transcrito do site Antonio Miranda


















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5 comentários:

  1. Miriam,um poema muito bonito!Comovente mas maravilhosos versos!Bjs,

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  2. Miriam muito legal! Divirto-me com os teus poemas e causos que tu contas. Beijão.

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  3. Anne,espero q/ tenhas um fim de semana bem poético e divertido. bjs

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  4. Obrigada,amigo.Pelo menos isso me deixa muito feliz;levar alegria ás pessoas q/ quero bem.
    Abç

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  5. Fico na dúvida sobre o porquê do título NÊGA FULÔ, e no contexto constar NEGRA FULÔ. Foi editado? Perde tanto no linguajar poético!

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