O POETA,O REVOLUCIONÁRIO,O MITO
De origem irlandesa
por parte da mãe,embora nascido em Londres,o poeta fazia muitas viagens a
Sligo,o condado irlandês, talvez em busca da magia que brotava dos campos
verdes do Eire,de onde vinha sua inspiração.Seu primeiro poema,”The like Isle
of Innisfree” é um exemplo do que digo.
Em 1880 mudou-se
,definitivamente ,para Dublin onde se matriculou na Metropolitan School of
Art,cultivando o interesse pela poesia ,tão cheia de nuances mágicas ,místicas e plena de mistérios.Sua obra era plena de simbolismos,visionária e
transcedental.
Viveu assim,trabalhando
no eixo Dublin – Londres,mas,sempre interessado no movimento literário e
tradições irlandesas,claramente influenciado pelo poeta John O’Leary,líder dos
fenianos,como eram chamados os nacionalistas e separatistas irlandeses,palavra derivada de Na Fianna,palavra céltica para os
guerreiros que “protegeriam “a Irlanda do domínio inglês.Aderindo totalmente á
causa ,a obra de Yeats tem um cunho totalmente nacionalista.
Além de ser um
grande coletor de lendas,poemas e tradições irlandesas,teve ,sempre uma posição
inflexível em relação aos acontecimentos políticos da época .Easter 1916 é considerada a maior elegia
política de todos os tempos ,seguida por “In
Memory of Major Robert Gregory,que
trata do luto e das perdas na poesia de Yeats.
Após conhecer a
revolucionária Maud Gonne, a quem propôs casamento inúmeras vezes sem nunca ser
aceito,o poeta intensificou a sua posição
e, voltou-se para o teatro ,que considerava um poderoso instrumento de divulgação
das ideias revolucionárias; em 1889,fundou o Irish Literary Theatre ,que mais
tarde deu origem ao Abbey Theatre,de Dublin.
Em 1917,casou-se com
Georgie Hyde –Lees, comprou uma torre normanda perto de Coole Park,onde viveu.Esta
velha torre arruinada,chamada Thoor Ballylee, tem história. Por causa dela
surgiu a série de poemas,”A Torre”,um lembrete da época da ocupação inglesa,mas,também,tocava
o âmago do poeta,mostrando a sua solidão e foi o seu refúgio e um excelente posto de observação.
Estabelecido o Estado Livre Irlandês,o poeta tornou-se senador e um ano depois ganhava o
Prêmio Nobel de Literatura.
VERSOS ESCRITOS EM DESALENTO
William Butler Yeats
Quando é que eu vi
pela última vez
Os olhos verdes redondos e os corpos longos vacilantes
Dos leopardos escuros da lua?
Todas as bruxas selvagens, aquelas senhoras muito nobres,
Por todas as suas vassouras e as suas lágrimas,
Suas lágrimas de raiva, fugiram.
Os santos centauros das colinas desapareceram;
Não tenho nada para além do amargado sol;
Banida mãe lua heroica e desaparecida,
E agora que cheguei aos cinquenta anos
Tenho que aguentar o tímido sol.
Os olhos verdes redondos e os corpos longos vacilantes
Dos leopardos escuros da lua?
Todas as bruxas selvagens, aquelas senhoras muito nobres,
Por todas as suas vassouras e as suas lágrimas,
Suas lágrimas de raiva, fugiram.
Os santos centauros das colinas desapareceram;
Não tenho nada para além do amargado sol;
Banida mãe lua heroica e desaparecida,
E agora que cheguei aos cinquenta anos
Tenho que aguentar o tímido sol.
A TORRE (EXCERTOS)
Antes de chegar essa ruína, durante séculos,
Rudes guerreiros, com jarreteiras nos joelhos
Ou de ferro calçados, subiam as escadas estreitas,
E havia guerreiros cujas imagens
Na Grande Memória guardadas,
Chegavam aos gritos e ofegantes
Perturbando o sono daquele que dormia
Enquanto os seus grandes dados de madeira batiam no tabuleiro.
Rudes guerreiros, com jarreteiras nos joelhos
Ou de ferro calçados, subiam as escadas estreitas,
E havia guerreiros cujas imagens
Na Grande Memória guardadas,
Chegavam aos gritos e ofegantes
Perturbando o sono daquele que dormia
Enquanto os seus grandes dados de madeira batiam no tabuleiro.
A Torre,residência e inspiração do poeta,na verde Dublin
O marechal da cultura
Sebastião Nery
MARECHAL DEODORO (AL) – Lá em cima na mitológica
Normandia, cabeça e norte da França, estuário do rio Sena, de frente para a
Inglaterra a quem pertenceu em tempos passados, separadas pelo Canal da Mancha
sob o qual passa hoje o túnel onde mergulha o trem que liga os dois países,há
uma pequena cidade encantada com nome de flor: Honfleur. O vale do Sena é
bordejado de verde e de vaquinhas normandas. Famosos o creme de leite e o
Camembert da Normandia. E o conhaque Calvados e a cidra, produzidos com as
maçãs que enfeitam os prados.
Honfleur no século 15 era um porto defensivo contra
invasões inglesas, em formato retangular e cercado por três ruas de edificações
seculares. É como se fosse uma praça, só que no meio é água e o quarto lado dá
para o rio Sena, que desemboca no Atlântico um pouco mais adiante. As casas dão
a impressão de ter 500 anos ou mais, até hoje habitadas. A primeira referencia
histórica a Honfleur é de 1027.
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HONFLEUR
HONFLEUR
E o que Alagoas tem com isso? Tem tudo. Em 1500,
Portugal chegou a Porto Seguro, viu, gostou, admirou, elogiou, plantou o Marco
do Descobrimento, ergueu uma cruz, celebrou uma missa e foi embora. Os piratas
fizeram a festa. Sobretudo os franceses. Durou séculos o saque, o contrabando e
a farra do Pau Brasil. Em Alagoas os caminhos estavam prontos: havia o mar com
a “Praia do Porto do Francês”, o rio São Francisco, os rios Mundau e Paraiba,
as lagoas.
Eles chegavam, pegavam o Pau Brasil e levavam,
sobretudo para os portos do Havre e de Honfleur, um em frente ao outro. Era o
Brasil construindo a Europa, as casas da Europa. Em 1611 nasceu a primeira
capital de Alagoas (hoje Marechal Deodoro) como “Povoado de Vila Madalena de
Sumaúna”, para proteger o pau-brasil do contrabando e da ação de piratas e
outros. Em 1636 já era o “Município de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul”.
Só em 1817 capital da capitania de Alagoas, com o nome de Alagoas. Em 1823,
cidade. Em 1839, a capital foi para Maceió. E em 1939 o nome da velha cidade
foi mudado para Marechal Deodoro, em homenagem ao filho ex-presidente.
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A “IIIª FLIMAR”
Há três anos o talento, a
competência e a dedicação do jornalista, escritor e coronel (do Exercito)
Carlito Lima, secretario de Cultura da cidade, criaram a FLIMAR (Festa
Literária de Marechal Deodoro). Nesse final de semana, realizou-se a 3ª. Veio
gente do pais inteiro, do Rio Grande do Sul ao Amapá, e da America Latina:
jornalistas, escritores, conferencistas, poetas, cantores, grupos de teatro,
folclore. Durante cinco dias, diante de suas magnificas igrejas barrocas e
sobrados patinados, e sobre as praças de pedras seculares, a cidade tornou-se
um anfiteatro da cultura a céu aberto.
Este ano, a IIIª FLIMAR
homenageou três consagrados intelectuais: o antropólogo e folclorista alagoano
Theo Brandão (Theotônio Vilela Brandão), que fez parte da celebrada geração de
Graciliano Ramos, Raul Lima, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e seu marido
José Auto, Aurelio Buarque, Diegues Junior, tantos outros; homenageou também o
alagoano acadêmico Ledo Ivo, maior poeta vivo do pais, e o consagrado
romancista baiano-carioca Antonio Torres, Premio Machado de Assis da Academia
Brasileira de Letras, com palestras sobre as obras de cada um.
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“A NUVEM”
“A NUVEM”
Todos os dias, de manhã,
de tarde e à noite, intelectuais fizeram conferencias. Ricardo Cravo Albin, com
sua sabedoria e bagagem histórica, celebrou os 100 anos de Luiz Gonzaga,
mostrando a contribuição do Rei do Baião para o pais ficar conhecendo o
verdadeiro rosto do Nordeste. O romancista Antonio Torres, o jornalista e
escritor Luiz Gutemberg e Janaina Amado debateram o significado litero-cultural
do centenário do saudoso Jorge Amado. A escritora e critica literária baiana
Miriam Salles analisou a nova literatura nordestina, amazônica e do
Centro-Oeste. Durante três horas, a carioca Beatriz Rabello apresentou para
dezenas de bibliófilos uma oficina de restauração de livros antigos.
E eu mostrei minha
experiência, no Brasil e como correspondente de imprensa, de meio século de
jornalista que também publica livros, como contei em meu ultimo livro “A NUVEM
– O que Ficou do que Passou”.
AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA »
Perplexidade de escritor
Duas coisas aparentemente simples ocorreram no
mesmo dia e me deixaram ainda mais atônito quanto ao comércio dos livros. A
primeira foi uma ida a uma livraria onde devia, com Marina Colasanti, participar
de um debate com a amiga e romancista portuguesa Lídia Jorge, que está lançando
A noite das mulheres cantoras.
Conversei, então, com um dos vendedores de livros. Ele também escandalizado com a quantidade de livros que chegam e que nem são expostos, pois não há lugar suficiente. Por semana, são editados cerca de mil títulos novos no Brasil. Não há livraria que aguente.
Daí que os escritores que não são best-sellers estão acostumados a ter notícias de que seus leitores não encontram seus livros nas livrarias. Seus leitores são caçadores, têm que ter a persistência dos arqueólogos. Até já escrevi uma crônica, “Como comprar um livro”, instruindo os que se aventuram a comprar um livro que não seja best-seller.
Confesso que olhei aquelas prateleiras e pensei: os cursos de criação literária deveriam começar por uma visita aos livros entulhados nas livrarias e por uma explicação de como funciona (perversamente) o mercado de livros. Isso para não falar do vasto cemitério de obras que podem ser as bibliotecas. Num mundo em que todos são autores, quem são os leitores?
Estava curtindo esse trauma quando ligo a TV para assistir à entrevista no Roda viva de Robert Darnton, diretor da Biblioteca de Harvard, a qual tem 17 milhões de livros. O homem é brilhante, didático e tem uma sabedoria perturbadora sobre o verdadeiro tsunami que abala a indústria do livro hoje. Como alguns de vocês sabem, conheço esse assunto por ter dirigido a Biblioteca Nacional, ter conhecido as maiores bibliotecas do mundo e ter participado de congressos e simpósios sobre as transformações que ocorrem neste setor. Até registrei essas experiências em Ler o mundo.
Conversei, então, com um dos vendedores de livros. Ele também escandalizado com a quantidade de livros que chegam e que nem são expostos, pois não há lugar suficiente. Por semana, são editados cerca de mil títulos novos no Brasil. Não há livraria que aguente.
Daí que os escritores que não são best-sellers estão acostumados a ter notícias de que seus leitores não encontram seus livros nas livrarias. Seus leitores são caçadores, têm que ter a persistência dos arqueólogos. Até já escrevi uma crônica, “Como comprar um livro”, instruindo os que se aventuram a comprar um livro que não seja best-seller.
Confesso que olhei aquelas prateleiras e pensei: os cursos de criação literária deveriam começar por uma visita aos livros entulhados nas livrarias e por uma explicação de como funciona (perversamente) o mercado de livros. Isso para não falar do vasto cemitério de obras que podem ser as bibliotecas. Num mundo em que todos são autores, quem são os leitores?
Estava curtindo esse trauma quando ligo a TV para assistir à entrevista no Roda viva de Robert Darnton, diretor da Biblioteca de Harvard, a qual tem 17 milhões de livros. O homem é brilhante, didático e tem uma sabedoria perturbadora sobre o verdadeiro tsunami que abala a indústria do livro hoje. Como alguns de vocês sabem, conheço esse assunto por ter dirigido a Biblioteca Nacional, ter conhecido as maiores bibliotecas do mundo e ter participado de congressos e simpósios sobre as transformações que ocorrem neste setor. Até registrei essas experiências em Ler o mundo.
Mas estou perplexo.
Atônito. Darnton está organizando a Biblioteca Digital dos EUA, que pretende
reunir o acervo de todas as bibliotecas do seu país. Tem, obviamente, seus
conflitos com o Google. Na Europa, 27 países estão organizando a Europeana. É
uma coisa maravilhosa, tipo ficção científica. Teremos em nossas mãos todo o
conhecimento do mundo. Nunca o saber foi tão democrático. Mas atrás disso há
problemas terríveis. Por exemplo: onde e como armazenar tudo isso? E se, de
repente, tudo se apaga? Nos EUA, 23% do orçamento da Biblioteca Digital são
reservados para duplicação dos bancos de dados em outro suportes. Não se pode
correr o risco de ver desaparecer toda a memória universal por um erro digital.
Outro problema: aumenta a produção da “lixeratura”, da literatura descartável, para gerar dinheiro, movimentar o mercado. Na Inglaterra, diz Darton, houve uma famosa quinta-feira na qual foram editados, num só dia, 800 títulos. O consumo de livros está aumentando. Deveríamos todos ficar felizes. Mas há um problema: o sistema está enfartado, engarrafado, exatamente como nas ruas e estradas cheias de carro.
Por isso é necessária e urgente uma reunião de editores, livreiros e autores para solucionar o imbroglio. São todos vítimas do atual sistema. Os editores e livreiros estão tentando livrar suas caras do jeito que podem. Já os autores são o elo mais fraco dessa cadeia, a menos, é claro, que abram mão de seus projetos e corram atrás do mercado, que os engolirá e os defecará instantânea e gloriosamente.
>> www.affonsoromano.com.br
Affonso Romano de Santana e Miriam Sales na II Flimar,Alagoas /2011
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