JOSÉ LINS DO REGO,PESSOA E
OBRA EM FILME DOCUMENTÁRIO
Em cartaz no Rio,
em São Paulo e Brasília, O Engenho de Zé Lins conta a
trajetória do escritor paraibano José Lins do Rego, que ilustrou em romances
como Menino de Engenho a vida
dos engenhos brasileiros. O fime conta um pouco da história do Brasil ao
retratar os engenhos pertencentes à família do escritor e o fim do ciclo
econômico da cana-de-açúcar.
Dirigido
por Wladimir Carvalho, o documentário já acumula prêmios como de
melhor montagem e Prêmio Especial do Júri, do Festival de Brasília de 2006, e
de melhor longa-metragem e direção, do FestCine Goiânia 2007.
Em
entrevista exclusiva ao site da Revista de História da Biblioteca Nacional,
concedida em seu apartamento no Rio de Janeiro, o diretor Wladimir Carvalho
contou o que o motivou a fazer o filme, falou sobre o lado misterioso da
personalidade de José Lins e da relação do autor com Gilberto Freyre, que
influenciou de forma essencial as obras de ambos, consideradas de primeira
importância para a compreensão do Brasil.
Por que
fazer um filme sobre José Lins do Rego? O que te inspirou na figura dele?
A inspiração aconteceu quase como
uma imposição. Quando eu era pequeno, depois do jantar lá em casa, meu pai
reunia a família e lia trechos dos livros de José Lins do Rego. Ele também
contava alguns casos sobre José Lins como se tivesse visto e participado. E
aquilo para mim era uma fascinação. José Lins fez parte do meu imaginário
desde muito cedo. Eu tenho, até hoje, todas as primeiras edições dos livros de
José Lins. São 12 romances, mais livro de ensaio, mais livro de crônicas.
Então, desde Menino de Engenho,
de 1932, eu colecionei isso fanaticamente. Ele era meu ídolo. Outra coisa é o
fato da minha cidade ser banhada pelo rio Paraíba, que passa na cidade dele,
Pilar, que é só 25 minutos distante da minha. Então sempre pensei em fazer um
filme sobre o rio Paraíba. O fato é que a vida inteira pensei em fazer um
filme sobre José Lins ou sobre o rio Paraíba, ou os dois misturados.
E
como fez para juntar os dois?
O rio
Paraíba é uma calha muito importante e possibilitou o nascimento da indústria
canavieira dessa região. Primeiro com os engenhos – o avô de José Lins era dono
de nove engenhos, um poderosíssimo senhor de terras – e depois as usinas, que
ainda estão em atividade hoje, embora muitas delas tenham falido. A indústria
açucareira no Brasil é falimentar. Porque, com a implementação da indústria
canavieira em São Paulo, isso ficou muito mais concentrado em São Paulo e em
Goiás, aí decaiu muito a indústria da cana, que foi a primeira indústria
brasileira. A indústria brasileira mais importante, desde o século XVII, foi a
indústria canavieira.
Você
levou 5 anos para fazer o filme...
Sem recursos é muito difícil
realizar um documentário. Eu produzo de forma independente, invento os meus
meios e vou fazendo. Outros filmes que eu fiz também demoraram muito, inclusive
um longa-metragem sobre José Américo de Almeida (O Homem de Areia, de 1982), que
foi uma espécie de mestre de José Lins do Rego, e que também passou no círculo
comercial.
José Lins
tinha uma personalidade um tanto controversa e no filme você também mostra o
lado melancólico dele.
Tem um
aspecto de José Lins que sempre me intrigou. Ele tinha uma instabilidade
emocional muito forte. Ora ele estava muito eufórico, muito feliz, ia no
futebol, ia na livraria José Olimpio todos os dias, fazia telefonemas passando
trote nos amigos, todo mundo adorava ele na livraria. E de repente, no mesmo
dia, quase na mesma hora, ele sentava num canto e ficava muito triste, ninguém
entendia por quê.
Otto
Maria Carpeaux dizia que ele era um homem são à procura de uma doença. Porque
ele tinha uma fixação com a morte. E por que será? Então, eu procuro no filme
ouvir as pessoas em função dessa história. O filme serve para esclarecer isso.
Como foi
feita a pesquisa para o filme?
Como eu
tinha essa identificação com José Lins, eu guardei muita coisa. Recortes, fotos
que eu fui conseguindo. Há três anos senti que deveria vir para o Rio de
Janeiro, porque a família dele mora aqui. Assim eu ficava mais próximo das
fontes, do Jornal dos Esportes, do Globo, da Cinemateca, do Arquivo Nacional,
onde poderia encontrar alguma imagem dele em movimento, o que é raríssimo. Eu
consegui imagens de um almoço dele no Clube de Regatas do Flamengo, onde ele
canta. E com as filhas dele eu consegui imagens dos casamentos delas, o que eu
considero uma relíquia.
E quando
o filme já estava praticamente fechado na edição, Cristina do Rego encontrou
uma fita com uma entrevista que ele deu para uma rádio em Lisboa em 1956.
Depois eu
fui atrás de pessoas que têm muito a dizer sobre José Lins, como Carlos Heitor
Cony, Afonso Arinos Filho, Raquel de Queiroz, que eu tive a sorte de encontrar
ainda viva – meses depois ela falecera -, Ariano Suassuna e Tiago de Melo.
A base do
processo foi encontrar fotos. E fui montando a pesquisa quase que
simultaneamente às filmagens. Isso é uma característica de como esse filme foi
feito. Se eu descobria uma coisa, eu parava as filmagens e seguia em busca
daquilo até encontrar.
Qual foi
a influência de Gilberto Freyre na vida e na obra de José Lins?
Essa
influência foi recíproca, embora José Lins fosse mais novo. Houve quase que uma
simbiose nessa amizade intelectual e cultural, porque quando Gilberto Freyre
voltou de seus estudos nos Estados Unidos, ele estava meio fora de órbita com
relação ao Brasil e foi José Lins quem o recebeu e com quem ele se entendeu em
Recife. A química entre os dois era tão impressionante que, logo assim que
foram apresentados, os dois viraram quase que irmãos. José Lins apresentou
Gilberto Freyre aos artistas, aos poetas, aos pintores. E Gilberto Freyre, por
sua vez, foi aos poucos convencendo José Lins de que ele devia escrever sobre
aquele mundo da sociedade patriarcal, do engenho, e o introduziu na leitura dos
romances de Thomas Hardy, Stendhal e José Lins foi por aí.
Se você
for estudar Casa Grande e Senzala, de Gilberto
Freyre, e romance de José Lins, é com se fosse a confirmação da grande obra, em
ciência antropológica do Gilberto projetada no romance, de José Lins. E isso
era uma coisa natural dele. Ele nasceu para contar essas histórias. Ele era uma
força, um gig ante. É uma informação nova para quem estuda, para quem quer
conhecer o Brasil. E José Lins projetou, em seu romance, o mundo que Gilberto
pensava de uma forma científica.
O
que significava a vida nos engenhos para José Lins?
Aquele mundo dos engenhos, a natureza, o rio
Paraíba, a bagaceira, o melado, as negras da cozinha, a figura do avô, que era
dono de muitos engenhos, aquilo para ele foi uma espécie de paraíso para ele.
Quando ele foi para o colégio interno, e se viu separado daquele mundo que ele
adorava, ele ansiava pelas férias, para rever aqueles tipos humanos todos, os
negros velhos, as amas de leite, a sua tia Maria, que o acolheu quando pequeno
– ele foi criado sem mãe. Aquilo, para ele, foi um grande útero acolhedor.
Mas depois ele abandonou o interior para ir morar na cidade.
Ele assistiu desde criança o
processo de decadência dessa atividade. Quando chega no romance Banguê, que tem muito de
autobiográfico, no momento em que o personagem volta para esse mundo dos
engenhos, aquilo já está desfeito. É como se aquele mundo, que foi muito
significativo até para a economia brasileira, estivesse se desfazendo. E ele se
sentia um pouco culpado, pois já não era mais um menino de engenho. Ele já
tinha sido mordido pela cidade. A relação dele com esse mundo é essa, é uma
relação de ruptura, que ele não aceitava. Ele queria justificar aquele mundo e
não conseguia.
*REVISTA DA HISTÓRIA
ENTREVISTA A OLÍVIA DE
CERQUEIRA,JORNALISTA ALAGOANA
1-QUAL A SUA AVALIAÇÃO DA
IV FLIMAR?
Excelente,cara Olívia.A
cada dia esta festa cresce mais no conceito dos participantes e leitores.Tanto
o município como a festa tem um desenvolvimento
que não se via há tempos atrás.Eu,que estive desde a primeira,posso
assegurar este progresso.
2-QUAL O SALDO POSITIVO DA
FLIMAR PARA O ESCRITOR BRASILEIRO?
-Toda festa
literária,inclusive a Flimar trás benefícios ao escritor brasileiro.Dá-lhe
visibilidade e o põe em contato com o público,o que é deveras importante.Como a
Literatura é solitária,as festas,bienais e palestras são sempre muito benéficas ao
escritor.
3- COMO AVALIA A INICIATIVA DO SECRETÁRIO CARLITO LIMA E DA
PREFEITURA LOCAL?
Carlito é a alma de tudo isto
, Cristiano e os patrocinadores,o motor.Sem recursos não se fazem festas e sem o apoio governamental,nada se
realiza.O patrocínio das empresas e o apoio da mídia é fundamental para o
sucesso do evento.Tudo isso junto,mais o entusiasmo e o espírito empreendedor
do Carlito,fazem da Flimar,uma das mais belas festas literárias do pais,com um
jeito próprio e alagoano de ser,caloroso,participante e no meio de cenários
paradisíacos.Deveria estar inclusa no calendário internacional de festas
literárias.
4-QUANTOS ESCRITORES O
EVENTO TROUXE ESSE ANO?
O suficiente para o
sucesso da festa.Nomes importantes e consagrados,uniram-se a escritores em
começo de carreira,jovens poetas e jornalistas famosos do passado,mas,ainda
atuantes.O que mais gosto na Flimar é a diversidade e o respeito á “prata de casa”;autores alagoanos têm sempre voz e vez por aqui.
5-QUAIS OS DEBATES QUE
TIVERAM MAIS DESTAQUE?
Aqueles sobre os
homenageados,Cacá Diegues e Graciliano Ramos.Os participantes dessas mesas
trouxeram informação e cultura sobre esses nomes consagrados,beneficiando o
público,numa linguagem quase sempre clara e interessante.Eu,mesma,que estudo
Graciliano há muito tempo,aprendi peculiaridades desconhecidas sobre
ele,inclusive,seu lado romântico que me surpreendeu.
6--- ESTE ANO,
APESAR DE EU SÓ TER IDO NO ÚLTIMO DIA, OBSERVEI QUE TINHAM POUCOS ESTANDES NA
RUA. QUAL A SUA AVALIAÇÃO DO EVENTO EM TERMOS DE DEBATES, INFRAESTRUTURA E DE
CONTEÚDO?
Sobre isso,nada posso lhe
dizer;quase não pude andar nas ruas,envolvida com palestras e mesas ,minhas e
dos outros,que queria assistir.Mas,notei a Casa das Rendas,a abertura do Museu
de Arte Sacra,muito importante para a cidade e a livraria da Lydia,desta
vez,maior e mais bem equipada.Criar uma festa deste porte é um desafio que só
mesmo o Velho Capita pode enfrentar.Por
isso o admiro tanto .Com relação a hospedagem,transporte e
alimentação,oferecidos aos convidados,posso falar por mim.Achei
perfeito.E,entre meus amigos mais chegados,ninguém reclamou.
Quanto ao conteúdo e
debates ,nada a cobrar ou reclamar.A Flimar satisfez a todos,é o que
penso.Envolveu literatura,ecologia,arte,
passeios,música,shows,exposições,assuntos de interesse local e comunitário,além
do magnífico sarau,o “point” de Marechal.
8-QUANTOS LIVROS A SENHORA
JÁ EDITOU?
Como escritora,tenho 5
livros publicados.A Bahia de Outrora,já na 4ª edição (esta última em
DVD),Contos Apimentados e Contos e
Causos ,já na 2ª edição e em e-book Maktub e As Filhas do General.
Toda minha obra está no
Amazon.
Como editora e presidente
da Editora Pimenta Malagueta,publicamos 20 livros de autores brasileiros e
portugueses ,organizamos três seletas ,sendo que a última sobre poesia ,será
lançada na Bienal da Bahia,em Novembro próximo.Também publicamos 15 livros
digitais que já estão no Amazon.
9-DE QUE FALA SUA OBRA?
Sou ,acima de
tudo,contista e cronista.Mas,também,escrevi um livro memorialista e ,em
Novembro,vou publicar livros digitais
com os mais de 2000 artigos escritos na Internet,em sites e blogs.Tenho,segundo
o Google mais de um milhão de leitores na rede.Só publicados pelo site
Artigonal,mais de 500.000 leitores.É só ir lá e conferir. Rsss
10- ESTA FOI A QUARTA VEZ QUE VEIO A ALAGOAS, QUAL
A IMPRESSÃO QUE LEVA DO ESTADO?
*10-Já sou alagobaiana.Estar aqui
,para mim,é uma festa.Não venho só para e pela Flimar;meu marido,um português
,adora Alagoas e sempre estamos num resort em Maragogi ou na praia de Pajuçara
,em Maceió.
Estamos bolando para Novembro um
fim de semana no Francês.
11- O QUE FOI
POSSÍVEL CONHECER DA NOSSA CULTURA NESSAS VISITAS QUE FEZ À NOSSA TERRINHA?
Ah,muita coisa.Muito de História
(adoro cidades históricas),geografia,literatura, folclore,mas,sobretudo
conhecer e participar da vida alagoana através do seu povo.
12-FAÇA SUAS CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Alagoas está de parabéns,
pela Flimar.Esta realização que há quatro anos enriquece a cultura
alagoana,deveria se estender a outras cidades,como Palmeira dos Índios ,Penedo
etc.O problema é que faltam carlitos.Estou pensando em criar um movimento,o”
carlitismo”
,para que toda essa festa
se estenda a todos os recantos deste Estado de Graça,que é Alagoas.
Obrigada,Olívia,amiga
desde a primeira Flimar,pela oportunidade desta entrevista.
Bjks
JORNALISTA OLÍVIA DE CERQUEIRA
ENTREVISTA A CARLOS SOUZA
Quando foi que você resolveu se tornar escritora e por que razão isso
aconteceu?
Carlos,
ninguém resolve se tornar escritor;esta tendência já está nos nossos genes e
,desde cedo,faz parte do nosso “eu”.Como uma semente ,talvez, brote mais tarde e
custe a florir,mas - tenha certeza - sempre esteve lá.Escrevo desde
menina e meu primeiro texto que veio a público foi – pasme! – um discurso
saudando Getúlio Vargas, a pedido do meu avô materno.Tinha 8 anos .Escrevi
diários,na infância e adolescência,mas,comecei a publicar ,mesmo em 2008,na
Internet,no site “Recanto das Letras.”
2. De onde vem sua inspiração para
escrever seus livros?
Eu
sou memorialista; passo para a tela do
PC a memória do Nordeste que quero preservar.Fatos,causos,contos,ditos
,costumes,está tudo nas páginas dos meus livros.Se você notar ,o que fica
registrado é o modus vivendi das elites,mas,o dia a dia do povo,do cidadão
comum,do tabaréu,da dona de casa,do operário,muitas vezes cai no esquecimento e
isto não pode acontecer.É um crime contra a memória cultural de um povo.Mesmo
nos meus contos e no único romance que escrevi até agora ,”As Filhas do
General” estão presentes personagens vivos com os quais convivi ou ouvi
contar.Ano que vem,com calma e muita pesquisa,começarei a escrever um livro
memorialista sobre a saga das duas
famílias ,uma urbana,outra rural de onde vim.
3. Qual seu compromisso com o leitor,
você pensa neles quando está escrevendo?Deseja passar alguma mensagem
através dos textos? Quais seriam?
Meu
compromisso com o leitor é apenas narrar o que vivi e aprendi; não faço
concessões. Tenho um público fiel,que me acompanha e,pela venda constante dos
meus livros,parece gostar do que lê.Não escrevo “para o leitor”,mas,quero
,sim,passar uma mensagem.A mensagem contra a intolerância e a preservação dos
nossos valores.O Nordeste,de raiz tipicamente portuguesa,é o maior repositório
da nossa cultura popular castiça ,sem estar misturada com sangue estrangeiro
,que veio com a imigração,no Sul e Sudeste.Somos autênticos e devemos nos
orgulhar disto.
4. Quais os gêneros literários que
mais gosta de escrever?
Gosto
de contar causos; escrevo contos,crônicas ,artigos e faço pesquisas que
redundarão em outros livros de folclore,adágios populares,etc
5. Dentre os livros que publicou,
qual deles destacaria?
“A
Bahia de Outrora” é um livro mágico; já está na 3ª edição e,ainda este ano,irá
para a quarta.Foi parar em Harvard,mas,não parece boa para as escolas e
bibliotecas da Bahia.Nunca participou de nenhuma listagem de escolha nos
programas de livro e leitura.O que comprova a mediocridade reinante nestas escolhas.
6. Por que você recomendaria a
leitura dos seus livros?
Não
recomendo; apenas falo sobre eles e os interessados os procuram. Acontece muito
isto ,na internet;uma pessoa acessa o Google em busca de um assunto
específico,se depara com meus livros ou artigos,fica entusiasmado,manda um mail
,querendo saber como comprar o livro.Simples,assim!
7. Quais são seus escritores
preferidos e por quê?
Tem
certeza que quer saber?Haverá espaço para todos? Criança solitária e
hiperativa, desde cedo minha mãe,professora,enchia-me de livros,uma espécie de
“sossega leão”.rsss
Comecei
com Lobato,que considero meu pai espiritual e,por causa dele,passei para os clássicos,os
pensadores,os historiadores etc
Mas,apesar
de ter lido quase tudo que interessa,posso citar os que mais mexeram comigo: Saramago,Thomas
Mann,Balzac,Eça de Queirós,Machado de Assis,Nietzsche,Shakespeare,Guimarães
Rosa,Camões,Gore Vidal ,Hemingway e o próprio Lobato.
Falta
ainda muita gente.
8. Qual o livro mais marcante que
você já leu até hoje e que recomendaria para os leitores?
Difícil;mas,vamos
ficar com “O Evangelho segundo Jesus Cristo”,de Saramago.Ainda adolescente,o
livro que mais mexeu comigo foi “Nada de Novo no Front”,de Erich Maria Remarque ,um libelo
contra a guerra.Capitães de Areia,de Jorge Amado,foi outro.Sou leitora
compulsiva,rabisco os livros,”converso com o autor”,indigno-me com facilidade.
9. Em sua opinião, o que deve
fazer um escritor para produzir obras de qualidade e com potencial para entrar
na história?
Ler,ler
muito.Estudar,pesquisar ,mas ,acima de tudo ,deixar fluir.Escrever é como quem
mija,dizia Lobato.Muitos,transformam seus livros numa espécie de “vestido de
noiva”,mexe aqui,conserta ali,modifica aqui,resultado: o livro perde a
alma,entra num didatismo besta,perde a essência.Cadê o autor?Não está mais
lá.Esses ficam como dizia o Millôr:-“Um desses livros que,quando a gente larga,
não consegue mais pegar...”
10. No meio literário você utiliza seu nome de batismo ou
usa pseudônimo?
Meu
nome de batismo.Tenho orgulho dele.
11. Além de ser escritora, você tem outra atividade
profissional?
Sim,sou
editora e blogueira.
12. Ao longo da sua carreira como escritora, já ganhou
algum concurso na área literária?
Você
não vai acreditar, mas,não ligo para concursos;nunca me sub meti a
nenhum.Ganhei um prêmio Perini,mas,porque,quase fui empurrada a
participar.Afinal,comi o pão que a Perini amassou desde 1964;e,continuo fiel.
Eu
escrevo para me desassossegar,não viso dinheiro,nem honrarias.Almejo,apenas,que
as gerações futuras leiam os meus livros e aprendam com eles.Hoje,questiona-se
tudo e os concursos literários gozam de muita desconfiança,assim como a lista
dos “mais vendidos”.Nós que somos do ramo,sabemos o que se passa nos
bastidores.
13. Ganhar prêmios é importante para o escritor?
Depende
dele;se isto afaga seu ego e lhe dá
dinheiro,porque não?Os arrivistas da Literatura estão bem aí ,á vista,mas,é voo
de galinha.Como você sabe,frequento,a convite,muitas festas literárias.As
grandes editoras mandam para lá suas “revelações” do momento;afinal,elas
bancaram os livros e têm que vender.Dois anos depois,essas pessoas somem e eu
pergunto:-Cadê o escritor que estava aqui?Está no sebo,com livro vendido a
$1.Esta é nossa realidade.
14. Está escrevendo algum livro no
momento?
Tenho
prontos “20 Contos de Amor e Humor”,que lançarei no 2º semestre e “Ser
Infeliz,Pra que?” que deverá sair para o Natal;e ,estou escrevendo “Você já se
indignou hoje?”,um livro que vai dar o que falar.Também quero imprimir “As
Filhas do General” ,que está em E-book,no Amazon e no Kindle.
15. Tem algum livro já escrito, esperando apenas o momento
para ser publicado?
Foi
o que respondi acima.Pretendo,publicar os artigos do blog,alguns com mais de
200.000 leituras.
16. Como avalia o momento literário da Bahia neste
início da segunda década do século XXI?
Existe
algum movimento literário aqui???Movimentos literários mudam conceitos,
transformam a arte, sacodem aa
sociedade,como o Modernismo nos anos 20.
O
que temos de melhor não é um movimento ,é uma reunião de escritores ou
candidatos a,o “Fala Escritor”,que existe,resiste e abre espaço para muitos.A
Bahia,infelizmente,parou no tempo,desde os tempos áureos de Mangabeira e Hugo
Balthazar da Silveira,entre outros.Temos uma Academia de Letras
(Mortas),composta apenas de acadêmicos que nada fazem para alavancar nossa
cultura.Alguns escritores morreram aos 30 anos,tornaram-se acadêmicos aos 60 e já
morreram,só faltam deitar...
17. Seu livro “A
Bahia de Outrora” já está na 3º edição, isso significa que é uma obra com
excelente aceitação. Como boa parte dos escritores fica com livros
encalhados já na primeira edição, a que atribui o sucesso de A Bahia de
Outrora?
É um livro despretensioso,algo como se fosse uma
vovó sentada embaixo de uma mangueira contando,com humor e graça,fatos do
passado.Contém muita informação e
história contada numa linguagem simples e agradável.
18. Mesmo chegando aos 70 anos, você tem uma intensa atuação
no mundo virtual, onde administra e escreve para nove blogs, além de ter perfil
nas principais redes sociais. Como iniciou este trabalho na
internet e qual a sua importância para sua carreira de escritora?
Minha
carreira de escritora não decolaria se não fosse a internet.Comecei escrevendo
em sites e ,daí ,passei a ser convidada a participar de Antologias,um passo
deveras importante para o candidato a escritor;dá-lhe visibilidade,ele aparece
para o público em geral.Escrevia em
vários sites,enviava artigos para o Artigonal e meus escritos pararam até em
jornais africanos.Depois,escrevi para alguns jornais impressos e virtuais e
publiquei meu primeiro livro em 2009.Tenho hoje,comprovados,entre blogs,sites e
jornais ,mais de 1 milhão de leituras na rede.
19. Em 2012, você criou a Editora Pimenta Malagueta. O que
levou a iniciar esta nova jornada literária?
O
grande problema com as editoras;muito caras e além de tudo vendiam meus livros
e eu nunca recebi nada de direitos autorais.Deixe-me aproveitar para lhe dizer
no que eu creio.O livro é uma mercadoria como outra qualquer e o autor tem que
lutar por ele;escrever,publicar,vender e divulgar.Invista no seu talento,pague
seu livro,e será dono dele para sempre.O processo é lento,mas,compensa;você não
acabará nos sebos.Se você não acredita no seu talento ,como quer que uma
editora comercial vá acreditar?Algumas enrolam o autor,publicam o livro sem
nenhum custo para o escritor,mas,ele não sabe no que se meteu.Prostituiu seu
talento por nada.Também,pensa ele,nada investi...Mas,ficam presos a um contrato
draconiano e acabam perdendo o élan;fica
mais difícil uma carreira feita nestes moldes ,decolar.Quem banca e trabalha
seu livro e acredita em si mesmo,pena um pouco ,mas,chega mais longe.
No
passado, as editoras bancavam o autor,pagava-lhe bem,investia nele;hoje,isto
está rareando ou não existe mais.Livrarias grandes fecham pejadas de
dívidas,grandes editoras vivem penduradas nos cofres governamentais, morrendo
de medo do nosso bicho papão,o livro digital.Que é uma realidade e não demora a
chegar com força total.
Sem
querer fazer proselitismo, nossa editora é uma editora de escritor para autores.Não visamos apenas
grana.Temos sede própria,”expertises” espalhados por todo Brasil e apenas dois funcionários.Custos
baixíssimos.O autor paga pelo seu livro um preço justo e tem liberdade
total.Divulgamos,dentro do possível e ajudamos o autor na tarefa de vender seu livro.Minha única queixa
Editora está sufocando a escritora.Não tenho mais muito tempo livre para
escrever.
20. A primeira Antologia Literária da Pimenta Malagueta foi
a Traços & Compassos,lançada no final de 2012, agora lança a nova Seleta “Os
7 Pecados Capitais”. Na sua visão, qual a importância das antologias
para os escritores, sobretudo para os iniciantes?
As
Antologias, Seletas e Coletâneas,quando bem feitas,bem diagramadas,revisadas
são uma ferramenta importante para o autor começar a aparecer.Nós não
comercializamos nossas Seletas,o autor fica com os exemplares determinados para
ele,mas,nós a enviamos para bibliotecas,escolas etc .Muitas vezes o
participante é chamado para visitar escolas,fazer leitura pública nas feiras
literárias,além de ter uma página no blog para divulgar seu talento.É um longo
caminho,mas,seguro.Uma carreira literária se constrói ao longo dos anos
e,muitas vezes,no decorrer de gerações.
21. A escritora Miriam de Sales é presença constante em
diversas Festas Literárias, a exemplo da FLIP, FLIMAR, FLIPORTO e FLICA. Em
2012 você participou da Festa Literária Internacional de Cachoeira –
FLICA, junto com a global Maria Paula, da mesa intitulada “Elas
também Riem”. Como foi essa experiência?
Magnífica!Na
FLIMAR já fui três vezes e interajo direto com as crianças e adolescentes,onde
gosto e preciso estar;temos que formar novos leitores neste mundo de PCs e
tablets.
Cachoeira
foi uma consagração. Adorarei voltar.Já há novos convites de vários municípios
brasileiros.Procurarei estar em todos.Porém,gostaria de prestar um serviço
maior no meu Estado,fazer projetos no Interior ,como fiz a “Oficina do Conto”
,em Alagoas.Mas,para isso preciso ser convidada,né? rsss
22. Como escritora, quais são seus planos para o futuro?
Escrever,
blogar ,publicar,editar...
23. Quais os conselhos você daria para um jovem escritor?
Acredite
no seu talento.Invista no seu livro.Terá sucesso? Como saber? Mas,se você não
investir,nunca saberá.Evite vender seu
talento a preço baixo.E,isto acima de tudo,como dizia Shakespeare:-Sê fiel a ti
mesmo!
24. Como escritora, quais dificuldades você encontra para
publicar e divulgar suas obras?
Recursos
escassos.No Brasil não há um mecenato como nos Estados Unidos,uma empresa apostando no trabalho do autor.A divulgação,porém,é
a parte pior;este ano,em Salvador,duas grandes livrarias fecharam,algumas estão
capengando.Autor,acredite no “corpo a corpo”.Vá e faça.Venda seus livros nas
praias,na rodoviária,nas ruas,nas escolas.Tenho dois autores que agem assim e
já estão além da segunda edição.Se vendem um livro por $10,todo lucro é
deles.Não precisam deixar 50% com distribuidores e livreiros.Garra e
coragem.Parta para a luta.
25. Na sua visão o que o escritor precisa ou deve fazer para
atraír novos leitores?
Primeiro,fazer
um bom livro; o mercado exclui o que não tem valor.Isso não significa fazer
concessões,mas,apresentar um trabalho de qualidade.
Ter
disposição para “trabalhar “ o livro.Participar de feiras,festas
literárias,visitar escolas,ir aonde o leitor está.E, lembrar que em todo não tem sempre uma semente de sim;não tenha medo de rejeição ou negativa.Estabeleça
uma meta: vender dois livros por dia.No fim do mês são
60
exemplares vendidos.Dá mais que um salário mínimo.
Sucesso
só vem antes de trabalho no dicionário.
ENTREVISTA COM A ESCRITORA/EDITORA MIRIAM DE SALES OLIVEIRA NO BLOG COMENDO LIVROS
20/07/2012
“O público, hoje, vive numa sociedade de massa e lê o que aparece e o que a mídia aponta como bom.” (M.S.O.)
Por Anna Carvalho*
“Sou, como muitos escritores atuais, fruto da internet. Comecei a publicar contos, crônicas e artigos na rede, em 2008, utilizando o espaço de sites e jornais virtuais. Publiquei textos em antologias e arrisquei meu primeiro livro. Curiosa, lancei-me na aventura do livro digital...”. É dessa forma que a professora baiana formada pela Faculdade de Filosofia da Bahia, escritora por vocação, estudiosa de História e Literatura, editora e multifuncional Miriam de Sales Oliveira se define no seu site. Autodidata, gostava de fazer pesquisa histórica e literária, valendo-se, muitas vezes, dos inúmeros livros de sua biblioteca particular.
“Miriam de Sales é inteligentíssima, inovadora e uma das melhores autoras contemporâneas da literatura baiana. A atuação dela vai muito além da escrita e publicação, pois ela abre portas para os autores baianos onde quer que ela vá, ainda mais agora, atuando também na Pimenta Malagueta Editora e colocando os autores baianos nas principais livrarias do país”, disse o prestigiadíssimo autor baiano e idealizador do projeto Fala Escritor, Leandro de Assis.
Como pedagoga especializou-se em Piaget e Maria Montessori, ministrando cursos sobre esses mestres em várias escolas particulares de Salvador. Seus trabalhos literários são ecléticos, um passeio por vários temas, porém, todos com uma boa dose de humor. Escreve para vários sites e para jornais e é membro da Academia Poçoense de Letras e Artes, ocupando a cadeira 55. Alem de tudo isso, ela é membro da Academia de Cultura da Bahia, membro do Comitê de Autores da Câmara do Livro da Bahia.
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