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segunda-feira, 9 de maio de 2011

DE TANGA E CHAPÉU DE GAZETA!...


Num  excelente artigo publicado no mês de Abril no jornal “O Globo” ,o escritor João Ubaldo faz um desabafo que é ao mesmo tempo uma denúncia sobre os ganhos do escritor.
_Querem que vivamos de brisa,ele escreve.
Nada mais correto.
Para as pessoas comuns o escritor não precisa ser remunerado.Como vive “nas nuvens”, entregue às suas ilusões e pensamentos,ambos matéria  empírica,não precisam se preocupar com coisas materiais  e comezinhas  como aluguel,alimentação,escola dos filhos,condução, enfim,coisas  prosaicas indignas de pessoas que habitam os superiores paramos do intelecto.
Assim ,não precisam receber nada pelos seus trabalhos literários,como artigos escritos em jornais,palestras,apresentações públicas etc.
Escrever não é ofício ,logo não precisa de remuneração.
Como escrever não é considerado  uma tarefa séria porque o escritor, o poeta ou ensaísta não vai procurar o que fazer para manter-se e escreve apenas para seu prazer pessoal e brindar seu país e o mundo com as suas mal traçadas?
Como um novo apóstolo ele tem que calçar as suas sandálias velhas e empoeiradas e  espalhar seu talento entre todos,gratuitamente, seja na rede ,nos grandes jornais ou publicando livros que ,muitas vezes,como no caso desta escrivinhadora aqui, saem do seu próprio bolso.
As palestras são outra estória.
Antigos presidentes,executivos de grandes empresas e cantores de axé , quando convidados,recebem uma nota preta para dizer umas palavrinhas a um público ávido para ouvi-los  ou que desejam apenas “tirar uma foto” com uma celebridade.
_Viu, Totonho,estive lá.
Entende-se; são os seus 15 minutos de fama.
Já o escritor é convidado para uma palestra, mas,espera-se que ele sinta-se honrado pelo convite e vá de graça.
Condução, refeição, tudo por sua conta.
Afinal, pensam alguns, o escritor não é rico?
Certa vez, enquanto eu estava numa livraria freqüentada por gente elegante aqui em Salvador, uma senhora folheava livros.
Agarramos na conversa, naturalmente sobre escritores e livros e ela ficou espantada quando eu lhe disse quanto ganha um escritor e quanto custa o livro que ela compra nas livrarias.
O livro que ela escolheu custava para o leitor $25.Ela não acreditou quando eu lhe disse que o autor recebia apenas 5 a  10% do preço da capa, ou seja, $1.25 a $2.50.
Acho que a pobre moça está de boca aberta até hoje.
Pensava que todos eram como Paulo Coelho ou os artistas de Tv.
Ledo engano!
Os artistas da renascença,como Ubaldo bem colocou,tinham um mecenas que o sustentavam. Casa ,comida e roupa lavada, garantidos.
Mas,tanto Ubaldo como eu, não somos mais jovens e bonitinhos para vivermos de gigolagem.
Artigos nossos, perambulam pela Internet sem que nos paguem nada e nem sequer sejamos comunicados ,da sua trajetória.
De vez em quando abro o Google  encontro meus textos habitando vários sites e jornais dispersos por ai sem o um conhecimento.
Segundo estatísticas confiáveis entre sites e blogs eu conto com mais de um milhão de leitores na rede.Se cada um pagasse $0.01 centavo  já daria  para pagar alguns custos.
Já os sites que publicam e vendem esses textos ,esses sim, devem ganhar muito bem.
Até em Angola e Cabo Verde,eu os encontrei.
Ao menos deram-me os créditos.
Segundo  Ubaldo,já existe  sábios da Internet pregando o fim dos direitos autorais, mesmo essa merreca que recebemos.
Resta informar a esses bem remunerados cidadãos que os bens, ditos gratuitos ,são regiamente pagos.Por nós,autores.
Diagramação,revisão, divulgação,distribuição e outros” ãos” que  são a via crucis do escritor independente  e oneram terrivelmente seus bolsos puídos.
Não existe almoço grátis.
Não sei se  você, leitor, já reparou que todos os grandes escritores brasileiros foram funcionários públicos: Machado,Graciliano,Drummond,Vinicius, a grande maioria.
Estou pensando seriamente em virar *“chopin” de algum deputado ou senador e conseguir uma sinecura para sobreviver.
Pena que não poderei mais escrever os discursos do Lula.
*Chopin:no Rio Grande do Sul é como e chama o passarinho que vive à custa do tico-tico.
 IMG:
O poeta Pobre,tela de Spitzweg,Museu de Munique
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*Meu comentário ao texto de Ubaldo publicado  n'O  Globo, que gerou este artigo,foi publicado no respeitado Digestivo Cultural.
Vejam:
17h59min
Embora ninguém por aqui dê muita bola p/ meus comentários, insisto, persisto e resisto, pois os nordestinos, como eu e Ubaldo, são, antes de tudo, uns fortes. O escritor independente, como essa que vos fala, já conhece muito dessa penúria. Pensa o livro, paga para editar, recebe, pena para divulgar e colocá-lo nas livrarias. Gasta sola de sapato, mas aqui custa barato, como diz outro baiano, esse um pouco melhorzinho, pois acabou ministro . Paga o cocktail do lançamento  e as palestras que dá são gratuitas. Vocês já repararam que, desde Machado, a maioria dos nossos escribas foram (ou são) funcionários públicos? Ou têm outra profissão? É duro, cara pálida. O talento nunca é recompensado. Precisamos de muito axé. Que ora repasso para vocês...
[Leia outros Comentários de Miriam de Sales Oliv]
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2 comentários:

  1. E não é verdade?
    Mas há escritores e escritores. Deixo fora os que realmente escrevem e cito os que escrevem porque estão ao gosto de politicagem. Ah, e nem precisam de inspiração. Grana, muita grana e o cara veste a cara de poeta, escritor, pintor...
    Meu consolo é que ainda sou guiada pelo meu cérebro.
    Parabéns pelo texto, amei.
    Bjs

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  2. Nadilce,muito obrigada pela visita e participação,Sempre ponderada e pronta prá luta.
    Abç

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