Pronto. Seu livro chegou, sua editora caprichou,está tudo
bem e você está feliz.
Enfim,é
um escritor.Colega de João Ubaldo e Balzac.Nada mau para quem pensou nunca ter
seu sonho realizado,mas,lutou por ele. Quem luta, vence.
Seu
problema agora é vender o livro.
Não
pergunte o que sua editora fará por você; evite surpresas desagradáveis e
esperanças depositadas em vão.
Temos
aqui dois casos diferenciados.
Se a
editora comprou seus direitos,ela terá todo interesse em vender seu
livro.Afinal,investiu e os editores, como todo comerciante ,não gostam de
perder dinheiro.
Então,
ela bole com o pé e com a bolsa;chama os distribuidores que põem seu livro nas
livrarias de todo o país,convocam a mídia,pagam boas propinas para que você apareça
em programas de TV, fazem crer que você está na lista dos mais vendidos,dão
rasteira nos bons escritores sem dinheiro,pagam a peso de ouro espaços em
Bienais e lhe colocam no topo da pirâmide.Mas,se esquecem de avisar aos
russos,isto é,aos leitores.E, apesar de todo dinheiro gasto,de toda apelação, o livro não
vende.Encalha.Depois de três tentativas carregando o defunto a editora
desiste.Congela você e corre atrás de outro,mais rentável.Seus livros?Vão
acabar nos sebos ,vendidos a dez réis de mel coado.Duvida? Acabo de comprar
pela Estante Virtual um livro novo,nunca usado ou folheado, de um autor
famoso,mas,que deixou de ser publicado,por apenas $20.E o livro,nos áureos
tempos .era vendido por $80.
E,
aposto que esse autor nem sabe que está”
ensebado” e nunca recebeu nada de direitos autorais,nem os dez por cento de
preço de capa que as editoras concedem ao dono da obra.
Existe
outra modalidade muito em voga,no momento.Você manda o arquivo,a editora
publica sem você gastar um tostão,mas,ela é a dona do livro.Mexe no seu
texto,faz o autor reescrever o livro todo para ficar “moderno”,decide a capa,
enfim,é como se você parisse,entregasse o bebê bem amado,mas, não pode dar pitaco
na educação dele.
Quando
o livro fica pronto – pasme- o autor recebe 10 exemplares e,se quiser mais tem que pagar á editora para recebê-lo.Gente esperta ,essa,não?
E, não
são grandes editoras,não, editoras de fundo de quintal,que podem sumir a
qualquer momento.Só esse ano vi umas dez desaparecerem sem deixar rasto,enquanto
outras sumiram com o dinheiro do autor.Basta abrir o facebook e clicar “editoras
fajutas”.
O
autor nem dispõe do livro para deixar
com amigos ou tentar a venda entre seus leitores.
Fazer
o que,se está preso num contrato draconiano ,de no mínimo,cinco anos?
Mesmo
assim ,encontrei autores muito contentes com isso.
Recebi
muitas ofertas com o essas,mas,declinei todas.Preferi pagar os meus livros e
ser dona deles.Andei certo.”A Bahia de Outrora” já está na terceira edição e os
“Contos Apimentados”,na segunda.
Apesar
de ser dona de editora,sinto-me á vontade para falar sobre isso,porque,acima de
tudo sou escritora.e, passei por tudo isso e recebi muitas dessas propostas
indecorosas.
Abri
uma editora para publicar os meus títulos.Mas,ela foi crescendo,fui merecendo a
confiança dos colegas que me indicaram a outros e vamos crescendo.
Antes
de ser escritora fui vendedora de livros, gerente para o Sudeste ,de uma grande
empresa editorial.Gerente muitas vezes premiada.Vender livro é minha paixão.
Já
arregacei as mangas.Certamente,os livros dos autores que escolheram a Pimenta
não vão encalhar.
Nos
próximos artigos falaremos sobre as editoras que trabalham sob demanda e cujos autores pagam para ter seus
livros publicados.
OS HAICAIS DO OSIRIS
O escritor Osiris Duarte,que faz questão de acrescentar,de Curitiba, é um mestre em hacais.
Vindo das frias plagas onde também florescem outros grandes escritores como o Prêmio Camões, Dalton Trevisan, reside ,hoje, em Lisboa para onde lhe levou o seu talento e disposição.
Confesso entender pouco de haicais,embora os ache uma magnífica prosa poética.
Mas,com o livro de Osiris , "haicais &haicus" tenho aprendido muito.
O livro é bilingue,está em Espanhol e Português,porque foi feito para correr mundo,mostrando o valor do hacaísta brasileiro nos mais diversos cantos da terra.
Para quem deseja aprender a fazer haicais, o texto "Diretivas para a iniciação de um haicaísta" é muito proveitoso.
Mas, para quem deseja apenas degustar poesia, é imprescindível tê-lo na sua estante, na mesinha da sala ou no escritório,para descontração.
UMA PEQUENA AMOSTRA DA POESIA
HAICAIS AO VENTO
pingos amarelos
espalhados pelo chão
são ipês ao vento.
HAICAIS Á NOiTE
fim da madrugada
que termina devagar-
que sol demorado!
HAICAIS INFANTIS
dorme um nenê
no balançar do cestinho
criança ou anjo?
HAICAIS RURAIS
ao redor do fogo
chá de canela bem quente
e bolo inglês.
IVAN LESSA
Partiu, hoje, de Londres para o infinito, aos 77 anos, o escritor Ivan Lessa,autor de três livros,colaborador do Pasquim e da BBC.
Saudades eternas.
ÚLTIMA CRÔNICA DE IVAN LESSA
Orlando
Porto. Taí um nome como outro qualquer. Podia ser corretor de imóveis,
deputado, ministro, farmacêutico. Mas não é. Trata-se de um anagrama de um
escritor francês – e ator e ilustrador bom e autor e figurinha difícil francesa
e aquilo que se poderia chamar de “frasista”.
Feio como um demônio, no
meio da década de 50 cansei de dar com ele dando comigo lá pelo Boulevard St.
Germain, xeretando o Flore, o Lipp, fazia uma cara que quem ia dizer algo
importante e logo sumia na companhia do Jean-Pierre Léaud, aquele maluquinho
dos filmes autobiográficos do Truffaut.s
Dupla estranha. Os desenhos
do —esse seu nome, artístico ou de batismo, Roland Topor— eram bacaninhas. Mas
sempre foi Orlando Porto para mim.
Fez cinema também. O Inquilino do Polanski, o Reinfeld deNosferatu,
do Werner Herzog. Até que bateu o que ocultava seus pés: umas botas estranhas
como ele.
De vez em quando, numa
revista esotérica, dou com ele. Ei-lo numa em inglês com “100 boas frases para
eu matar agorinha mesmo”. Se chegou ao fim, e chegou, foi pelo cachê. Meros
galicismos literários.
E aí trago à cena, mais uma
vez, porque cismei, mestre Millôr Fernandes. Esse era profissional. Nada a ver
com “frasista”. Trabalhava com a enxada dura da língua. Nunca para dar a cara
no Flore, principalmente com Topor e Léaud.
Reli umas 100 frases do
Orlando, ou Topor, e não resisti à tentação de, em algumas delas dar-lhes uma
ginga por cima e outra por baixo, à maneira do frescobol querido do mestre, só
para exercitar os músculos muito fora de forma.
Cem razões: Faço por bem
menos, mas mais Copacabana e Leblon. Algumas raquetadas minhas em homenagem ao
mestre cuja falta continuo sentindo:
- Melhor maneira de
verificar, antes, se já não estou morto.
- Mas não se mata cavalos e
malfeitores?
- Pelo menos eu driblaria o
câncer.
- Milênio algum jamais me
assustará.
- Apanhei-te horóscopo! Pura
enganação!
- Levo comigo a reputação de
meu terapeuta.
- Pronto, agora não voto
mais mesmo! Chegou!
- Aí está: uma cura
definitiva para a calvície.
- Enfim cavaleiro do reino
de sei lá o quê.
- A vida está pelos olhos da
cara. Pra morte eles fazem um precinho especial, combinado?
- Enfim, ano bissexto nunca
mais. Esses ficam para o Jaguar. O resto pro Ziraldo.
- Ao menos é uma boca de
menos a sustentar.
- Só quero ver quanta gente
vai sincera no meu funeral.
- Pronto! Inaugurei estilo
novo: Arte Morta.
- Sabe que minha vida não
daria um filme. O livro eu já escrevi. Deixem o desgraçado em paz, peço-lhes.
- Custou, mas estou acima de
qualquer lei que vocês bolarem aí.
- Levou tempo, mas cortei
enfim meu cordão umbilical.
- Roncar, nunca mais. Nem eu
nem ninguém ao meu lado.
- Que desperdício nunca ter
fumado em minha vida!
- Consegui preservar o
mistério sempre giarando em meu torno.
- Maioria silenciosa? Essa
agora é comigo.
- Na verdade, nunca me senti
à vontade nessa posição incômoda de cidadão do mundo.
- Ei, juventude, pode vir
que pelo menos uma vaga esrá aberta.
- Emagrecer é isso aqui.
- Agora é conferir se, do
outro lado, sobraram tantas virgens assim.
E assim, cada vez que
um”frasista” passar por perto de mim, leve uma nossa: minha e de Millôr. Dois
contra um a gente ganha mole.
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