Olá
Se você é escritor,está com vontade de ser ou já publica algumas coisinhas na Rede,leia esse decálogo.
Faz sentido!
Decálogo do escritor
Por Miguel Sanches Neto
I - Não fique mandando seus originais para todo
mundo.Acontece que você escreve para ser lido extramuros, e deseja testar sua
obra num terreno mais neutro. E não quer ficar a vida inteira escrevendo apenas
para uma pessoa. O que fazer então para não virar um chato? No passado, eu
aconselharia mandar os textos para jornais e revistas literárias, foi o que eu
fiz quando era um iniciante bem iniciante. Mas os jovens agora têm uma arma
mais democrática. Publicar na internet. Há muitos espaços coletivos, uma
liberdade de inclusão de textos novos e você ainda pode criar seu próprio site
ou blog, mas cuidado para não incomodar as pessoas, enviando mensagens e avisos
para que leiam você.
II - Publique seus textos em sites e blogs e deixe que sigam
o rumo deles. Depois de um tempo publicando eletronicamente, você vai encontrar
alguns leitores. Terá de ler os textos deles, e dar opiniões e fazer sugestões,
mas também receberá muitas dicas.
III - Leia os contemporâneos, até para saber onde é o seu
lugar. Existe um batalhão de internautas ávidos por leitura e em alguns casos
você atingirá o alvo e terá acontecido a magia de um texto encontrar a pessoa
que o justifica. Mas todo texto escrito na internet sonha um dia virar livro.
Sites e blogs são etapas, exercícios de aquecimento. Só o livro impresso dá
status autoral. O que fazer quando eu tiver mais de dois gigas de textos literários?
Está na hora de publicar um livro maior do que Em busca do tempo perdido? Bem,
é nesse momento que você pode continuar sendo um escritor iniciante comum ou
subir à categoria de iniciante com experiência. Você terá que reduzir essas
centenas e centenas de páginas a um formato razoável, que não tome muito tempo
de leitura de quem, eventualmente, se interessar por um livro de estréia. Para
isso,
você terá de ser impiedoso, esquecer os elogios da mulher e
dos amigos e selecionar seu produto, trabalhando duro para que fique sempre
melhor.
IV - Considere apenas uma pequenina parte de toda a sua
produção inicial, e invista na revisão dela, sabendo que revisar é cortar. O
livro está pronto. Não tem mais do que 200 páginas, você dedicou anos a ele e
ainda continua um iniciante. Mas um iniciante responsável, pois não mandou logo
imprimir suas obras completas com não sei quantos tomos, logo você que talvez
nem tenha completado 30 anos. Mas você quer fazer circular a sua literatura de
maneira mais formal. Quer o livro impresso. E isso é hoje muito fácil. Você
conhece um amigo que conhece uma gráfica digital que faz pequenas tiragens e
parcela em tantas vezes. O livro está pronto. E anda sobrando um dinheirinho, é
só economizar na cerveja.
V - Gaste todo seu dinheiro extra em cerveja, viagens,
restaurantes e não pague a publicação do próprio livro. Se você fizer isso,
ficará novamente ansioso para mandar a todo mundo o volume, esperando opiniões
que vão comparar o seu trabalho ao dos mestres. O livro impresso, mesmo quando
auto-impresso, dá esta sensação de poder. Somos enfim Autores. E podemos montar
frases assim: Borges e eu valorizamos o universal. Do ponto de vista técnico,
Borges e eu estamos no mesmo nível: produzimos obras impressas; mas a
comparação não vai adiante. Então como publicar o primeiro livro se não
conhecemos ninguém nas editoras? E aí começa um outro problema: procurar
pessoas bem postas em editoras e solicitar apresentações. Na maioria das vezes
isso não funciona. E, mesmo quando o livro é publicado, ele não acontece, pois
foi um movimento artificial.
VI - Nunca peça a ninguém para indicar o seu livro a uma
editora. Se por acaso um amigo conhece e gosta de seu trabalho, ele vai fazer
isso naturalmente, com alguma chance de sucesso. Tente fazer tudo sozinho, como
se não tivesse ninguém mais para ajudar você do que o seu próprio livro. Sim,
este livro em que você colocou todas as suas fichas. E como você só pode contar
com ele...
VII - Mande seu livro a todos os concursos possíveis e a
editoras bem escolhidas, pois cada uma tem seu perfil editorial. É melhor
gastar seu dinheiro com selos e fotocópias do que com a impressão de uma obra
que não será distribuída e que terá de ser enviada a quem não a solicitou.
Enquanto isso, dedique-se a atividades afins para controlar a ansiedade, porque
essas coisas de literatura demoram, demoram muito mesmo. Você pode traduzir
textos literários para consumo próprio ou para jornais e revistas, pode fazer
resenhas de obras marcantes, ler os clássicos ou simplesmente manter um diário
íntimo. O importante é se ocupar. Com sorte e tendo o livro alguma qualidade
além de ter custado tanto esforço, ele acaba publicado. Até o meu terminou
publicado, e foi quando me tornei um iniciante adulto. Tinha um livro de ficção
no catálogo de uma grande editora. E aí tive de aprender outras coisas. Há
centenas de livros de iniciantes chegando aos jornais e revistas para resenhas
e uma quantidade muito maior de títulos consagrados. E a maioria vai ficar sem
espaço nos jornais. E é natural que os exemplares distribuídos para a imprensa
acabem nos sebos, pois não há resenhistas para tantas obras.
VIII - Não force os amigos e conhecidos a escrever sobre seu
livro. Não quer dizer que eles não possam escrever, podem sim, mas mande o
livro e, se eles não acusarem recebimento ou não comentarem mais o assunto,
esqueça e não lhes queira mal, eles são nossos amigos mesmo não gostando do que
escrevemos. Se um ou outro amigo escrever sobre o livro, festeje mesmo se ele
não entender nada ou valorizar coisas que não julgamos relevantes em nosso
trabalho. E mande umas palavras de agradecimento, pois você teve enfim uma
apreciação. E se um amigo escrever mal de nosso livro, justamente dessa obra
que nos custou tanto? Se for um desconhecido, ainda vá lá, mas um amigo, aquele
amigo para quem você fez isso e aquilo.
IX - Nunca passe recibo às críticas negativas. Ao publicar
você se torna uma pessoa pública. E deve absorver todas as opiniões, inclusive
os elogios equivocados. Deixe que as opiniões se formem em torno de seu
trabalho, e talvez a verdade suplante os equívocos, principalmente se a verdade
for que nosso trabalho não é lá essas coisas. O livro está publicado, você já
pensa no próximo, saíram algumas resenhas, umas superficiais, outras negativas,
uma muito correta. Você é então um iniciante com um currículo mínimo. Daí você
recebe a prestação de contas da editora, dizendo que, no primeiro trimestre, as
devoluções foram maiores do que as vendas. Como isso é possível? Vejam quantos
livros a editora mandou de cortesia. Eu não posso ter vendido apenas 238
exemplares se, só no lançamento, vendi 100, o gerente da livraria até elogiou –
enfim uma vantagem de ter família grande.
X - Evite reclamar de sua editora. Uma editora não existe
para reverenciar nosso talento a toda hora. É uma empresa que busca o lucro,
que tem dezenas de autores iguais a nós e que quer ter lucro com nosso livro,
sendo a primeira prejudicada quando ele não vende. Não precisamos dizer que é a
melhor editora do mundo só porque nos editou, mas é bom pensar que ocorreu uma
aposta conjunta e que não se alcançou o resultado esperado. Mas que há
oportunidades para outras apostas e, um dia, quem sabe...Foi tentando seguir
estas regras que consegui ser o autor iniciante que hoje eu sou.
Miguel Sanches Neto é paranaense, natural de Bela Vista do Paraíso, onde nasceu em 1965. Aos quatro anos, ficou órfão de pai e passa a viver em Peabiru, no mesmo estado, onde estudou em colégio agrícola e chegou a trabalhar na agricultura. Mais tarde, formou-se em Letras. É doutor em Teoria Literária (Unicamp – 1998) e professor de Literatura Brasileira na Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR). Crítico literário da Gazeta do Povo (PR) e da revista Carta Capital, o autor vem recebendo críticas favoráveis à sua obra, como a recentemente publicada sobre o romance “Um amor anarquista”, lançado em 2005 pela Record e que o consagrou como “o melhor autor da sua geração”, de acordo com artigo do jornalista Mario Sabino, da revista Veja (24/08/2005). Recebeu o Prêmio Nacional Luis Delfino pelo livro “Inscrições a giz” (FCC, 1991) e o Prêmio Cruz e Souza/2002 por “Hóspede secreto” (contos, Record, 2003).
FELIZ NATAL PARA VOCÊ TAMBÉM!
Miguel Sanches Neto é paranaense, natural de Bela Vista do Paraíso, onde nasceu em 1965. Aos quatro anos, ficou órfão de pai e passa a viver em Peabiru, no mesmo estado, onde estudou em colégio agrícola e chegou a trabalhar na agricultura. Mais tarde, formou-se em Letras. É doutor em Teoria Literária (Unicamp – 1998) e professor de Literatura Brasileira na Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR). Crítico literário da Gazeta do Povo (PR) e da revista Carta Capital, o autor vem recebendo críticas favoráveis à sua obra, como a recentemente publicada sobre o romance “Um amor anarquista”, lançado em 2005 pela Record e que o consagrou como “o melhor autor da sua geração”, de acordo com artigo do jornalista Mario Sabino, da revista Veja (24/08/2005). Recebeu o Prêmio Nacional Luis Delfino pelo livro “Inscrições a giz” (FCC, 1991) e o Prêmio Cruz e Souza/2002 por “Hóspede secreto” (contos, Record, 2003).
FELIZ NATAL PARA VOCÊ TAMBÉM!
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