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domingo, 15 de junho de 2014

COMO PUBLICAR UM LIVRO

                                                                                                                            JUNHO/14

 Como publicar um livro?
É a pergunta que persegue muitos aspirantes a autores, muitos indivíduos que sonham em ter um livro seu publicado numa casa editorial conhecida. Se pretende publicar um livro pela mera ideia fantástica  de ser escritor, então pense duas vezes. O termo escritor já não se aplica hoje em dia a todas as pessoas que têm livros publicados.
Mas se alguém pretende ser levado a sério nesta profissão, a verdade é que é fácil publicar  hoje em dia, se se souber combinar uma boa dose de inteligência, perspicácia, disciplina e paciência. Inteligência para conhecer o mercado e saber o que ele deseja num momento particular, perspicácia para saber quais os jogadores que interessa contatar, disciplina para escrever uma obra que mereça ser publicada com início, meio e fim, e paciência (na dose certa) para alcançar o objetivo.
Vamos supor que temos um indivíduo, o Sr. Silva, que concluiu uma obra que considera ser merecedora da atenção de editores. O Sr. Silva primeiro tem que ter consciência de que não são as opiniões de amigos que deverão fazê-lo pensar que é bom. Os amigos de aspirantes a escritores não devem ser considerados amigos do Sr. Silva; não são exigentes, têm medo de dizer a verdade para não magoar o amigo por isso preferem deixar o amigo fazer figuras, muitos deles não compreendem o mundo de edição de livros, mas ainda assim encorajam o pobre Sr. Silva. Há que recorrer a pessoas/amigos que saibam do que falam, com experiência de leitura e escrita.
 Mas imaginemos que o Sr. Silva até escreveu um manuscrito catita no qual investiu muito labor e pesquisa. Atenção que não falo de uma obra que tem potencial mas que só precisa de uma revisão, leia-se, precisa de ser toda reescrita. Se o Sr. Silva fosse uma celebridade, bastaria ligar para marcar uma reunião e provavelmente já teria publicação garantida em certas editoras, mas sendo um anônimo, como deve ele proceder para alcançar a tão almejada publicação?
Antes de mais, qualquer aspirante a escritor que se preze deveria conhecer o mercado que temos e acompanhar o trabalho que se tem realizado de ano para ano pelos vários intervenientes no processo. São inúmeras as casas editoriais que existem, cada uma com a sua área de publicação específica. E atenção que eu não considero válido o trabalho das vanity presses que publicam à custa do autor. Já falei desse tipo de serviços antes e por esta altura é claro que não tenho uma palavra boa a dizer dessas empresas.
Conhecer o mercado é um aspecto importante. Atrevo-me a dizer tão importante quanto ter uma bagagem considerável de leituras para   poder ser um melhor escritor.
 Graças à Internet e à postura cada vez mais flexível das editoras, é possível ter um melhor vislumbre do modo de funcionamento do mundo de edição luso – brasileiro.  Há blogs de referência que acompanham regularmente as novidades editoriais, e também aquilo que se passa no mundo dos livros. Assim o Sr. Silva fica a conhecer várias coisas que apenas poderão beneficiá-lo, em particular, quais as editoras que lhe interessam na área que pretende publicar.
 Assim, se a obra do Sr. Silva foi inspirada por Boris Vian, Mallarmé, Zweig, Malraux ou Faulkner, não precisa de recorrer a uma editora que publique apenas literatura romântica. Mas se tiver sido antes inspirada por Tolkien, Gene Wolfe, Jack Vance, Whittemore, Silverberg, Vandermeer então o Sr. Silva sabe que não será qualquer  editora  que publicará seu livro.
 Agora que o Sr. Silva fez um bom trabalho de pesquisa e elaborou uma listinha de editoras - alvo para a sua obra (se o Sr. Silva tiver 18 anos, aconselha-se a esperar até aos 25 anos de idade), tem que passar ao próximo passo. O que vou escrever em baixo não significa que seja a solução tiro e queda para se ser publicado. Não há fórmulas nem palavras mágicas que permitam abrir as portas da edição. Mas parece-me   que não é um mau conselho para ser partilhado.
Convenhamos, já ninguém envia manuscritos por correio hoje em dia, a não ser por exigência de regulamentos de prêmios literários. Mas quando um escritor se dedica a uma candidatura espontânea, tem que primeiro preparar uma carta (ou e-mail) em que procurará convencer o editor com uma boa argumentação de que o manuscrito que tem em mão tem potencial de publicação. A escrita desta carta diz muitas coisas sobre a pessoa que a escreveu. Diz se a pessoa está desesperada e está praticamente a implorar para ser publicada, diz se a pessoa sabe escrever ou não, em suma, diz se a pessoa deve ou não ser levada a sério.
 Não recomendo ao Sr. Silva que exponha a sua vida desde a infância  nesta carta. Deve limitar-se a escrever sobre a obra em si, e só quando for relevante acrescentar fatos de cunho   pessoal ou profissional. Não vale a pena puxar galões, não vale a pena mencionar doenças tenebrosas, não vale a pena  dizer que foi rejeitado por 500 editoras antes de chegar às presentes mãos.  A carta é sobre o livro, mas depois há a sinopse, que vai à parte.
 A sinopse de um livro é sempre algo extremamente complicado de elaborar. O Sr. Silva não quer deixar de mencionar um ou outro detalhe sumamente interessante e acaba por escrever um texto longo, enfadonho, desinteressante, que mata o seu livro em poucos segundos de leitura. Em manuscritos de fantasia isto então torna-se particularmente grave quando são adicionados nomes inventados em mundos inventados. Kalkahsh de Tyrin, príncipe do reino das Sete Cidades, é declarado inimigo mortal do irmão Karaknov e defrontam-se na batalha de Sum Dum nos campos de Cehcitheh... Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz....... Fim da leitura.
A sinopse deve destacar o cenário, o enredo, o tema, as personagens, mas pouco mais e sempre de forma concisa, tentando trazendo ao de cima o potencial da obra. Não o prejudica nada se pensar: será que um leitor tem interesse em ler esta obra até ao fim?
Quando já tem a carta feita, deve então procurar contatar as editoras da sua listinha e tentar saber o nome do editor/editores e qual a melhor forma de submeter um manuscrito à sua apreciação. Como hoje em dia é tudo feito por e-mail, assim que souber os e-mails do editor ou assistente, envia então a cartinha com a sinopse mais o manuscrito anexado. O Sr. Silva que peça para acusarem a recepção da obra e se não acusarem, telefona a chatear. O mínimo que uma editora deve fazer é acusar a recepção do e-mail.
 E depois vem a espera... A longa e excruciante espera... Não sei qual o tempo em média que se deve esperar. De qualquer modo, a haver interesse, o Sr. Silva será contatado. Se começar a desesperar pela espera, pode sempre telefonar e perguntar em que pé vão as coisas. Mas há coisas que o Sr. Silva não deve fazer de forma nenhuma: chatear a editora com repetidas mensagens, perseguir o assistente ou editor nas redes sociais ou blog e bombardeá-lo com mensagens, mandar e-mails em que manifesta a sua impaciência e desagrado com a demora de forma veemente (a não ser que tenha boas razões para isso).
 Agora imaginemos que o Sr. Silva foi aprovado para edição pela editora XX. Ah maravilha! O Sr. Silva vai ser escritor! Vai ser rico! Desengane-se, Sr. Silva. Rico não vai ser de maneira nenhuma. Não estamos nos EUA em que o escritor vende um livro a uma editora e pode fazer ainda algum dinheiro jeitoso com essa venda. Até porque  só em raras exceções publicam-se mais do que 2000 a 3000 exemplares (e falo das grandes editoras). Elabora-se um contrato, recebe um X de pagamento, e depois fica à espera da percentagem que cabe ao autor pelas vendas, se houver boas vendas.
 Quem está nisto pelo dinheiro, vai ficar desiludido. Bastante desiludido. E a não ser que se chamem Paulo Coelho ou Mia Couto , não dá para viver só da escrita em full-time, sorry!
Agora, imaginemos que o editor pedia ao Sr. Silva para reescrever o final do seu manuscrito porque achou-o demasiado fraco. O Sr. Silva só não tem um enfarte porque vai ser escritor daí a meses e quer estar bem de saúde para ver o seu livro publicado. Reescrever o final?! Nem pensar! Mas quem é que esse editor  pensa que é? O manuscrito está perfeito, não precisa  de ser reescrito coisíssima nenhuma. Pois é, Sr. Silva, acontece que o editor sabe o que é melhor para si e se ele recomenda a reescrita do final, então é porque o final tem que ser reescrito. E agradeça aos santos não lhe ter pedido para reescrever mais coisas.
 Chegamos à parte da produção do livro. A única coisa que interessa nesta parte ao autor é a revisão do seu manuscrito, um processo que pode e deve acompanhar, mas de forma comedida e sem exigências de prima-donna. A capa será escolhida pelo editor, e não pelo autor, pelo que se não gostar da capa, pode expor os seus argumentos junto ao editor, mas este terá sempre a última palavra.
 Finalizada a produção do livro, passamos à distribuição nacional do livro e a respectiva promoção. É importante frisar que cada editora tem o seu sistema de distribuição, algumas mais fortes do que outras. Quanto mais abrangente for o circuito de distribuição, significa que maior poder de manobra e capacidade financeira detém uma editora.
 E eis que chegamos à fase final, a promoção do livro. Nos tempos que correm o autor tem um papel cada vez mais ativo na divulgação do seu livro junto ao público, seja  através de redes sociais, blogs, lançamentos (nacionais e regionais), contatos de imprensa, etc. É cada vez mais esperado que o autor faça esse trabalho em colaboração com a editora que fará o seu próprio trabalho de divulgação. Mas a verdade é que quanto melhor o perfil comunicador do autor, mais hipóteses tem de chamar a atenção de forma positiva. Nunca é muito bom para o autor demonstrar em público que afinal não fez bem o trabalho de casa.
Há também muito sururu em torno de conchavos e Q.Is (quem indica) e necessidade de  recomendações  para conseguir publicar um livro. Acreditem em mim. Se as publicações  fossem todas à base de conchavos  não veríamos tantos livros a serem lançados no mercado diariamente, para além de que seriam sempre os mesmos. Que elas existem, existem, mas atenção que conhecer pessoalmente o editor não significa ser publicado por ele. Significa apenas que tem mais hipóteses em ter o manuscrito lido e avaliado. Um editor afinal está a gerir uma empresa que não pode funcionar em função de amigos dos amigos. Da mesma forma, nunca passaria pela cabeça de um bom editor recusar ver candidaturas espontâneas porque sabe que pode estar a escapar-lhe algo de valioso.
Como devem adivinhar, esta não é uma ciência exata e está sujeita a muitos fatores. Nada é garantido, mas se as vossas expectativas não forem cumpridas, não culpem apenas as editoras. E principalmente não me culpem a mim se nada do que aconselhei resultar.*

Safaa Dib
Assistente Editorial
PUBLICADO POR SAIDAEMERGENCIA
*O texto foi adaptado por mim para o leitor brasileiro,pois,foi escrito á maneira portuguesa.




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2 comentários:

  1. Oi Miriam! Falou e disse tudo nesse excelente post que adaptou! Hoje em dia todos são escritores,mas poucos conseguem chegar ao mercado,com certeza! bjs e boa semana,

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  2. Anne,estamos tendo uma indigestão de "literatos";todo mundo escreve sobre tudo e quer publicar.Falta á maioria,estilo,conhecimento,um bom exercício de gramática,aptidão e,sobretudo ,bom senso.Falta ás editoras,quase sempre muito gananciosas,um filtro que lhes permita só publicar o que vale a pena.Centenas vivem ás custas dos ingênuos que vivem a ilusão de ,um dia,ser um grande escritor.É o que eu sempre falei amiga:"O sabido vive do bobo e o bobo do seu próprio trabalho."
    Mil bjs e toda minha admiração.

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