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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A festa de Liz: Quem é a criadora da FLIP

Em trinta anos de carreira, a editora inglesa Liz Calder conquistou uma reputação notável. "Num meio literário cheio de futricas como o de Londres, as pessoas a respeitam e também gostam dela, o que é raro", diz um de seus amigos, o romancista Julian Barnes. Liz é elogiada por ter um faro impecável. Salman Rushdie e o próprio Barnes estão entre os escritores de renome que passaram por suas mãos na estréia. Isso sem mencionar J.K. Rowling, criadora do bruxinho Harry Potter e descoberta pela editora Bloomsbury, da qual Liz é fundadora e sócia. Outra de suas qualidades, costuma-se dizer, é o cosmopolitismo. Ela adora fazer descobertas no estrangeiro. É graças ao seu empenho que os ingleses podem ler Machado de Assis e Rubem Fonseca, entre outros escritores brasileiros. No momento, contudo, a informação mais importante a respeito da editora talvez seja esta, fornecida por um outro amigo, o produtor cultural Peter Florence: "Ela é uma grande anfitriã. Suas festas são ótimas!". Liz Calder, afinal de contas, é a figura por trás da primeira Festa Literária Internacional de Parati (Flip).
 O evento pretende ser exatamente aquilo que seu nome diz: não uma feira de livros no formato tradicional, mas uma oportunidade para escritores e público se encontrarem num cenário acolhedor, em atmosfera de celebração.



A ligação de Liz Calder com o Brasil remonta aos anos 60, quando ela morou no país com o primeiro marido e duas filhas pequenas. Na época, ainda não trabalhava com literatura e acabou num metiê diferente: o de modelo. "Ser modelo me ajudou a aprender português. Eram horas e horas de fofoca com estilistas, costureiras e maquiadores", diz ela, com humor. Liz se deu bem na profissão. Posou para revistas como Claudia e fez campanhas publicitárias como a que aparece nesta página, realizada em 1967 para uma grande joalheria. No começo dos anos 70, de volta à Inglaterra, ela começou a construir sua carreira editorial, que culminou na fundação da Bloomsbury, em 1988. O Brasil continuou a ser uma escala obrigatória em suas férias. Dez anos atrás, depois de uma passagem por Parati, ela "caiu de amores" pelo lugar. Construiu com o atual marido, Louis Baum, uma casa numa encosta de frente para o mar e, em 1995, começou a acalentar o plano de fundar na cidade um festival literário.


Existe atualmente mais de uma centena de festivais literários em cidades pitorescas espalhadas pelo mundo. O mais famoso de todos, que serve de modelo ao de Parati, é o de Hay-on-Wye, no País de Gales. Seu criador, Peter Florence, teve a idéia de iniciá-lo em 1988, depois de ganhar uma bolada numa partida de pôquer com amigos. No primeiro ano foram vendidos 2.500 ingressos. O evento de 2003 recebeu 93.000 pessoas e movimentou 10 milhões de libras na economia local. "Não vejo por que Parati não possa chegar a isso", diz Florence, convidado a ser conselheiro da Flip. Num certo sentido, a festa já é um sucesso. Além de um time de primeira linha de autores brasileiros, ela terá os convidados internacionais Eric Hobsbawm, Hanif Kureishi, Julian Barnes, Don DeLillo e Daniel Mason. O que faltou foi patrocínio. Foi preciso correr o chapéu para levantar os cerca de 400.000 gastos na organização. Mas Liz Calder está determinada a firmar o acontecimento no calendário. "Já temos planos para cinco anos", conta ela.


Transcrito da Revista Veja,2002




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