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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ENTREVISTA ESCLARECEDORA PARA ESCRITORES

Anair Weirich é uma verdadeira batalhadora da literatura. Desde 1996 sobrevive só de seus livros e viaja pelo Brasil inteiro para vendê-los entre palestras, debates e eventos literários. Casada com um livreiro, ela mesma edita e publica seus livros, conhece todo o processo de publicação do livro, conversa com gráficos, papeleiros, entregadores, livreiros e comerciantes, é uma máquina editorial em pessoa, com uma bela história sempre na ponta da língua e dos dedos, sendo o melhor exemplo de luta pelo êxito que um escritor pode ter, sua energia contagia a todos os que a cercam por onde ela vai.


N.A:Esta entrevista foi transcrita do site Portal Literal e publicada aqui porque achei muito importante para esclarecimento  aos novos autores sobre como divulgar seus livros.
As lições desta mulher serão valiosas para todos.
Como nosso trabalho de divulgação se parecem -eu ajo igualzinho -decidi presentear os autores mais tímidos com essa verdadeira lição de como trabalhar sua obra.


Por estas e por outras que temos muito orgulho de tê-la na AgL, e já tirando uma casquinha, pedimos uma entrevista.



Vamos à ela!

AgL: Como você começou a escrever? Quem lia para você ao principio?

Anair: A literatura nasceu num momento bem dramático da minha vida, e serviu como válvula de escape. E foi nessa válvula de escape que me encontrei profissionalmente. O inicio foi de pequeninas coisas que escrevia, como se estivesse beliscando um pedaço de doce. Era pura necessidade e vontade de sentir o gosto. E minha família e amigos foi lendo uma coisinha aqui, outra ali, fui me animando também em publicar aqui e ali, e a coisa foi andando assim, com publicações em antologias, jornais, rádios, TVs, etc., por nove longos anos. Depois disso que veio meu primeiro livro individual, patrocinado por uma empresa de cosméticos. Mas... antes de tudo meeesmo!, houve um fato, que se eu puder pular, melhor... mas se não tiver jeito, eu conto.

AgL: Qual é seu gênero favorito? Algum link onde possamos ver ou ler algo sobre sua obra recente?

AnairMinha grande paixão é a poesia e tudo que preciso dizer, mesmo que não queira, vira poesia – que, coitada, sempre esteve em último lugar na literatura. Vende de tudo, mas o que menos vende é poesia, mesmo nos dias atuais. Claro que no meu caso, - o autor estando presente e recitando um pedacinho do poema, é meio caminho andado. Já ouvi pessoas dizerem: “poesia para mim lembra castigo, porque no meu tempo, meu professor – ou professora – me fazia decorar poesias enormes, tipo Navio Negreiro, quando eu aprontava alguma. E sempre que leio poesia me parece estar lendo ou ouvindo grego, é difícil assimilar, penetrar nesse mundo que é encantado, mas não me parece coisa de meros mortais, e sim dos eleitos. E depois, às vezes a gente lê poesias que são um amontoado de palavras sem nexo, quando a gente vai procurar o significado, o encanto se dissipa. Deveria existir texto mais simples para quem está começando a se interessar, e mais sofisticado para quem já está curtindo esse estilo de literatura. Só agora, é que me senti tentado por ela. Você precisa vir junto com o livro, para que eu as ouça.” – rsss.

... Foram tantas as vezes que ouvi coisas parecidas, nas mais variadas faixas etárias!... Mas isso sempre me serviu de estímulo, e não de desanimo perante a situação.

E mais, adoro despertar nos olhos das pessoas aquele brilho emocionado, jogando, pelo menos por um momento, a frieza dos negócios na lata do lixo, dando lugar a um pouco de emoção. E, claro, deixo passar o encantamento do momento e novamente dou lugar aos negócios, recebendo o valor do livro, empreendendo a contínua caminhada de deixar meus rastros poéticos por onde passei.

Meu site: www.literaturacatarinense.com.br/anair Recomendo clicarem no livro Melodias do Coração – infanto-juvenil e Doce Jeito de Ser Criança – infantil.

Mas claro que meu amor à poesia não impede que eu goste de prosa. Adolfo, o cãozinho das praias, é o meu infanto-juvenil mais recente, saído pela Hemisfério Sul. Ele nos mostra o lado do companheirismo e fidelidade dos animais, tão ausente nos homens nos dias atuais.

AgL: Como é seu processo criativo? O que ocorre antes de se sentar a escrever?

Anair: Comigo isso de sentar e escrever não ocorre assim. Posso estar fazendo algo importantíssimo, mas quando as palavras mágicas chegam, por meio de alguém que fale ou algo que eu veja, não consigo fazer mais nada. Tenho que anotar a essência, - que depois desenvolvo -, pois é como passarinho no céu, que foge ligeiro ao ver a rede armada do papel. O poema precisa ser conquistado, temos que fazê-lo sentir-se tentado a vir até nós. Daí ao papel, é um passo... Depois é que vem o computador, onde a obra é esculpida.



AgL: Que tipo de leitura ativa sua vontade de escrever?

Anair: Ultimamente tenho lido muito biografias, - Adeus, China – de Li Cunxim, é um depoimento comovente do último bailarino de Mao. Mas quando leio poesia, - as mais diversificadas possíveis, e é isso que me fascina nelas – eu não resisto. J. G. de Araújo Jorge, por exemplo, sempre foi meu ídolo, embora eu não saiba escrever sonetos. Sou um pouco arrisca a cabresto de métrica, embora meu amigo Professor e escritor Alfredo Bays diga que rédeas é bom para aprender a obedecer.
AgL: Quais são para você os ingredientes básicos de uma historia?

Anair: Um tema que seja debatido e em voga no momento, embora muito tema antigo não saia da pauta. E muita, muita, emoção e aventura! Mas detesto quando o autor divaga páginas e páginas em cima de uma única emoção ou detalhe.

AgL: Em que sapatos você se encontra mais cômodo: primeira pessoa ou terceira pessoa?


Anair: Na primeira pessoa, porque sempre me coloco no lugar daquilo que me chama atenção e vivo aquele momento como se fosse meu.

AgL: Que escritores conhecidos são os que você mais admira?

Anair: Lindolf Bell na poesia, - e que a apregoava nas esquinas de São Paulo, embora fosse de SC, junto com outra autora que não lembro o nome. Ele era quase um camelô da poesia, e isso me inspirou muito nas minhas peregrinações poéticas. Urda Alice Klüeger, romancista de SC e Fernando de Moraes – o biógrafo que escreveu O Mago, - mas que mago é ele, o Fernando, por ter narrado com encanto as proezas do Paulo Coelho, que não teve nada de encantador. Embora O Alquimista tenha me conquistado, porque me fez descobrir qual o verdadeiro tesouro que havia em mim, que é a literatura, jamais imaginei o Paulo Coelho, tão espiritualizado, fazer tanta barbaridade com a vida dele e das pessoas que o amavam...

AgL: O que torna um personagem crível? Como você cria os seus?

Anair: Meus personagens estão nos meus poemas, e esses personagens existem, como no menino que me pediu esmola – e eu conto como foi sua fala, – na minha primeira professora, cujo poema foi premiado, e em todas as pessoas que conheci nesses quatorze anos de andanças pelo sul do pais, vivendo de poesia. E esses personagens são mais que verdadeiros, até os que estão no meu livro A Vendedora de Livros – que não tenho dinheiro para editar.

AgL: Você é igualmente hábil contando historias oralmente?

Anair: Declamando poesias, sim, mas na contação de histórias, nem tanto...

AgL: Profundamente em sua motivação, para quem você escreve?

Anair: Para aqueles que me lêem e precisam de incentivo poético e motivacional, afinal, as idéias são para serem propagadas.

Anair: AgL: Escreve como terapia pessoal? Os conflitos internos são uma força criadora?

Anair: Acho que os conflitos internos são uma força destruidora. Prefiro criar quando sou tocada emotivamente na forma que eleve os sentimentos para construir algo bom.

AgL: O feedback dos leitores serve pra você?

Anair: Claro, se não disserem o que sentiram ao ler o que escrevo, como vou saber se estou no caminho certo? Por mais que crie o que gosto, preciso saber se os outros gostam do que crio.

AgL: Você se apresenta para concursos? Você recebeu prêmios?

Anair: Já recebi alguns, mas a necessidade de cuidar ininterruptamente das vendas dos meus livros, me afasta de concursos, pois o mínimo de tempo livre que tenho, reservo para ler. Televisão, só o jornal e algum filme no final de semana, se meus emails e leitura estiverem em dia. E ainda tenho a família, para me fazer um pouquinho presente...

AgL: Você compartilha os rascunhos de suas escrituras com alguém de confiança para ter sua opinião?

Anair: Geralmente peço opinião quando o poema está “pronto” – no rascunho, é claro. Coloco entre aspas, porque um poema nunca está verdadeiramente pronto, há sempre algo que pode ser mudado. O triste é quando está no livro e você não pode fazer mais nada...

AgL: Você acredita ter encontrado "sua voz" ou isso é algo eternamente buscado?

Anair: Eu diria que encontrei meu porta-voz. É nos meus textos que me expresso, ou expresso o que sinto ao ver algo alheio, mas que me toca, então não é tão alheio assim.

AgL: Que disciplina você se impõe para horários, metas, etc.?

Anair: Comigo é tudo instintivo, acontece quando tem que acontecer. Não me imponho regras de criação, nem tempo para elas, só nas vendas, onde tenho de ser criativa para despertar meu cliente para a leitura. As metas só estão na quantidade de livros que preciso vender. Bem que eu adoraria ter alguém que cuidasse de entrar dinheiro no meu bolso, para poder dar asas à minha criação literária.

No começo, quando vendia meus livros, eu até me conflituava: Será que a pessoa que comprou meu livro é porque sou boa vendedora, ou boa escritora? Mas logo me dei conta de que as pessoas hoje compram porque estão a fim, não se deixam enganar por conversa fiada de ninguém. A venda agressiva não deve existir. Acho que nesses quatorze anos, nunca enfiei um livro goela abaixo de alguém, só vendia se a pessoa queria.

AgL: Anair, querida, muito obrigado por nos atender para uma entrevista. Te desejamos muito sucesso!

Anair: Eu é que agradeço a oportunidade de compartilhar o que venho fazendo e aprendendo pelo Brasil.







2 comentários:

  1. Boa postagem Miriam neste misto de generosidade, nota-se a peregrinação apra se divulgar uma obra. É interessante observar que ela como muitos escritores,entusiasta se valem de anotações em papeis,sobre algo que lhe evoque a inspiração.Bem como interessante a ressalva de que o povo em geral nao tem buscado por poesia, e a gente sonha com um mundo de poesia, que fizesse o mundo mais leve.Enfim é
    uma batalhadora eficaz.Obrigado pela postagem,para alinhar o n9ivel de dificuldade que é fazer literatura no país.Meu abraço de paz e luz e um bom feriado.

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  2. Querido Toninho,o q/ me trouxe próxima a Anair é seu método de trabalho e sua garra;eu tb batalho os meus livros,dia -a -dia ,hora- a -hora,sem ser indelicada ou invasiva.Para o autor independente ,trabalhar seu livro é asobrevivencia de um sonho.
    bjs

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