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quarta-feira, 7 de julho de 2010

HISTÓRIAS DA VIDA PRIVADA!




Seu Jairo Santana era um funcionário exemplar;durante os trinta anos que trabalhou na Prefeitura de Salvador,nunca faltou um dia,nem saiu cedo,nem chegou atrasado.Parecia um relógio.Casado com Dona Zuleica,há trinta e cinco anos,tinha dois filhos,Deraldo,hoje,taxista e Marlise,professora.

A mulher cuidava da casa,sempre ás voltas com panelas e crochê;mas,na sua opacidade aparente,era quem mantinha firme os alicerces dessa família,para que,seu Jairo pudesse cuidar,tranqüilo dos problemas do seu trabalho.

Viviam felizes na sua casinha da Ribeira,com um pequeno jardim ,na frente e mamoeiros no quintal;quando entrou na menopausa,Dona Zuleica achou que não precisava mais cumprir as obrigações de cama,penosas para ela e,eles passaram a viver como irmãos.

Seu Jairo já entrado nos cinqüenta não pareceu se importar muito com a nova condição;viviam a mesma vidinha de sempre,iam á missa aos domingos,passeavam á tarde no Porto dos Mastros,para apreciar o pôr-do-sol e tomar um sorvete,sempre de braços dados,o mais perto de intimidade que chegavam.

Mas,como tudo na vida tem um fim,numa segunda feira ensolarada,seu Jairo,deixou pender a cabeça sobre sua mesa de escritório e,suavemente,entregou a alma ao Criador;tinha sido escalado,assim,de repente,sem doença aparente,pois a Magra,não costuma dar aviso.Foi um salseiro,um constrangimento só,um movimento de colegas e até de passantes que tinham negócios a tratar na prefeitura.Todos pareciam muito tristes.Seu Jairo era muito querido.

O velório, no dia seguinte,no Campo Santo,foi muito concorrido,a Municipalidade pagou as exéquias,a mulher compareceu toda de preto,como devia ser,acompanhada pelos filhos,todos muito chorosos.No meio da multidão,ninguém notou uma senhora,ainda jovem,que chorava muito,acompanhada por duas crianças,uma menina,de uns sete anos e um garoto de onze.Estavam meio recantiados,quase escondidos,mas,na hora do enterro,vieram perto da cova e jogaram umas rosas sobre o caixão.Choravam baixinho,controlados,mas,foram notados por Deraldo,que ficou intrigado:-Quem seria aquela mulher?Nunca a tinha visto.

-Aí tem dente de coelho,pensou.

A mãe nada percebeu, a cabeça pendida nos ombros,acariciava os cabelos da filha,abraçadas ambas,solidarias na dor.

A estranha e as crianças foram saindo devagar e Deraldo as seguiu até o ponto do ônibus; sentaram num banco e ele puxou conversa.

-Vieram também enterrar alguém? O garoto respondeu, um leve desafio na voz:

-Meu pai.Trabalhava na Prefeitura,morreu de repente.

Atônito, o rapaz voltou ao cemitério.

Estava claro que seu pai tinha outra família. Mas, como?Quando?Não faltava ao trabalho,nunca saía á noite,não se atrasava,sempre em casa nos feriados e fins de semana.

Só podia ser na hora do cafezinho!
IMG:Busca google

Um comentário:

  1. Olá
    Este seu conto traz uma realidade do cotidiano. Famílias paralelas que só se descobem com a morte do "patrono".
    E não tem diferenças de época e classe social.
    bjs

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