Vivemos um momento de significativa transição na maneira como produzimos distribuímos e acessamos informação. Yochai Benkler, autor do livro The Wealth of Netwoks, talvez uma das mais importantes obras que discutem as transformações econômicas e políticas decorrentes da popularização da rede mundial de computadores, descreve detalhadamente as diversas conseqûencias decorrentes da emergência da economia de informação em rede. Segundo ele, durante os últimos 150 anos, as modernas democracias complexas dependeram estritamente de uma economia de informação industrial para se organizarem. Na última década e meia, estaríamos vendo um mudança radical desse modelo cultural. Possibilitada por transformações tecnológicas, Benkler afirma que estaríamos presenciado uma série de adaptações econômicas, políticas e sociais que tornam possível uma câmbio radical na maneira como construímos o ambiente informacional que ocupamos enquanto indivíduos e cidadãos.
A mudança estrutural que acredita-se está em curso, potencializará, como já é possível perceber, um numero muito maior de iniciativas de produção de cultura não-proprietária e orientada para além do mercado. Estas novas práticas emergentes possuem um sucesso notável em áreas tão distintas quanto desenvolvimento de software, jornalismo investigativo, pesquisas científicas e jogos multiplayer online. Embora estruturadas em torno de objetivos muito diferentes, essas práticas possuem modelos organizacionais semelhantes. São descentralizadas, baseadas na colaboração aberta de indivíduos dispersos geograficamente, envolvidos de forma voluntária e autônoma por afinidades políticas, culturais e morais.
Mas, assumindo que a natureza humana não mudou na última década e meia, quais são as bases materiais que possibilitam a emergência dessas iniciativas no centro da economia capitalista mundial?
Uma resposta breve para essa pergunta reside no colapso dos custos de comunicação a longas distâncias. No último século e meio, as tecnologias de comunicação tenderam a concentrar e comercializar a produção e a troca de informação na proporção em que ampliavam o alcance geográfico e social. Prensas mecânicas volumosos e o telégrafo, combinados com modelos de gestão para transformarem jornais locais de baixa circulação em mídia de massa. E na medida que esse modelo midiatico se expandia, o fluxo de informação se tornava, cada vez mais, uma via de mão única. A audiência crescia, assim como sua dispersão geográfica e social, e o discurso público (ou opinião pública) amplamente divulgada, formadora da base compartilhada da conversação política e do entendimento cultural provinha crescentemente dos produtores comerciais de capital-intensivo em direção a consumidores passivos e indiferenciados. Esse modelo foi adotado também pelo rádio, pela Tv, e posteriormente pelas comunicações a cabo e satélite.
A internet é o primeiro meio de comunicação moderno que amplia o seu alcance descentralizando o capital estrutural de produção e distribuição de informação, cultura e conhecimento. Os servidores e roteadores não são muito diferentes, do ponto de vista técnico e econômico, dos computadores pessoais. O mesmo não pode ser dito quando falamos do rádio e da televisão, por exemplo. Boa parte do capital físico que alicerça a rede mundial de computadores está descentralizada e pertence aos próprios usuários. Estas mudanças nas condições materiais de produção e distribuição de informação e cultura têm um impacto forte na forma como concebemos o mundo que ocupamos, assim como as alternativas de ação coletiva possíveis.
A produção social colaborativa, ou a produção social por pares, seja lá como descrevamos este fenômeno, é umas das alternativas que se tornaram viáveis. Há dez anos atrás, se alguem propusesse escrever a maior enciclopédia do mundo, baseada no trabalho voluntário de milhares de colaboradores, cujo produto seria disponibilizado gratuitamente para milhões de pessoas, no mínimo, duvidaríamos da sanidade mental do proponente. Pois a Wikipédia existe. Se há dez anos, alguém dissesse que o processador mais poderoso do mundo seria construído com base na contribuição voluntária de milhares de pessoas disponibilizando a capacidade de processamento ociosa de seus computadores pessoais, seríamos céticos dainte de suas possibilidades de sucesso. Pois o Folding@home existe. Isso tudo pra não mencionar o primeiro projeto de todos, e talvez o de maior sucesso baseado nesse modelo, o desenvolvimento do sistema operacional aberto/livre GNU/Linux.
As empresas capitalistas mais inovadoras reconheceram a importância do conteúdo produzido por usuários, e se utiliza dele para produzir valor. Como em qualquer mudança brusca de produtividade, as empresas mais ousadas buscam maneiras inovadoras de extrair lucros diante de um novo cenário produtivo. Youtube, Google, IBM são alguns exemplos paradigmáticos. Porém, o que há de peculiar neste cenário, é que boa parte deste novo modelo produtivo de informação, cultura e conhecimento extrapola o universo mercadológico. Estamos falando de ações coletivas que não se orientam pela necessidade de lucro, que não obedecem os modelos organizações das firmas.
É, justamente, na encruzilhada da possibilidade de exercitar maior liberdade e autonomia organizativa e de produzir uma cultura mais diversificada e livre que enxergo a iniciativa da Editora Plus. Uma editora que não depende do mercado para sobreviver, e que portanto não se baliza pela lógica de mercado para escolher suas publicações. Repito o exercício retórico que havia feito acima. Se há uma década, um grupo de pessoas se reunisse para fundar uma editora com o objetivo de publicar os mais diferentes autores, e distribuir suas publicações gratuitamente em todo o território nacional, teríamos certeza do insucesso desta iniciativa. Pois a Editora Plus existe.
A mudança estrutural que acredita-se está em curso, potencializará, como já é possível perceber, um numero muito maior de iniciativas de produção de cultura não-proprietária e orientada para além do mercado. Estas novas práticas emergentes possuem um sucesso notável em áreas tão distintas quanto desenvolvimento de software, jornalismo investigativo, pesquisas científicas e jogos multiplayer online. Embora estruturadas em torno de objetivos muito diferentes, essas práticas possuem modelos organizacionais semelhantes. São descentralizadas, baseadas na colaboração aberta de indivíduos dispersos geograficamente, envolvidos de forma voluntária e autônoma por afinidades políticas, culturais e morais.
Mas, assumindo que a natureza humana não mudou na última década e meia, quais são as bases materiais que possibilitam a emergência dessas iniciativas no centro da economia capitalista mundial?
Uma resposta breve para essa pergunta reside no colapso dos custos de comunicação a longas distâncias. No último século e meio, as tecnologias de comunicação tenderam a concentrar e comercializar a produção e a troca de informação na proporção em que ampliavam o alcance geográfico e social. Prensas mecânicas volumosos e o telégrafo, combinados com modelos de gestão para transformarem jornais locais de baixa circulação em mídia de massa. E na medida que esse modelo midiatico se expandia, o fluxo de informação se tornava, cada vez mais, uma via de mão única. A audiência crescia, assim como sua dispersão geográfica e social, e o discurso público (ou opinião pública) amplamente divulgada, formadora da base compartilhada da conversação política e do entendimento cultural provinha crescentemente dos produtores comerciais de capital-intensivo em direção a consumidores passivos e indiferenciados. Esse modelo foi adotado também pelo rádio, pela Tv, e posteriormente pelas comunicações a cabo e satélite.
A internet é o primeiro meio de comunicação moderno que amplia o seu alcance descentralizando o capital estrutural de produção e distribuição de informação, cultura e conhecimento. Os servidores e roteadores não são muito diferentes, do ponto de vista técnico e econômico, dos computadores pessoais. O mesmo não pode ser dito quando falamos do rádio e da televisão, por exemplo. Boa parte do capital físico que alicerça a rede mundial de computadores está descentralizada e pertence aos próprios usuários. Estas mudanças nas condições materiais de produção e distribuição de informação e cultura têm um impacto forte na forma como concebemos o mundo que ocupamos, assim como as alternativas de ação coletiva possíveis.
A produção social colaborativa, ou a produção social por pares, seja lá como descrevamos este fenômeno, é umas das alternativas que se tornaram viáveis. Há dez anos atrás, se alguem propusesse escrever a maior enciclopédia do mundo, baseada no trabalho voluntário de milhares de colaboradores, cujo produto seria disponibilizado gratuitamente para milhões de pessoas, no mínimo, duvidaríamos da sanidade mental do proponente. Pois a Wikipédia existe. Se há dez anos, alguém dissesse que o processador mais poderoso do mundo seria construído com base na contribuição voluntária de milhares de pessoas disponibilizando a capacidade de processamento ociosa de seus computadores pessoais, seríamos céticos dainte de suas possibilidades de sucesso. Pois o Folding@home existe. Isso tudo pra não mencionar o primeiro projeto de todos, e talvez o de maior sucesso baseado nesse modelo, o desenvolvimento do sistema operacional aberto/livre GNU/Linux.
As empresas capitalistas mais inovadoras reconheceram a importância do conteúdo produzido por usuários, e se utiliza dele para produzir valor. Como em qualquer mudança brusca de produtividade, as empresas mais ousadas buscam maneiras inovadoras de extrair lucros diante de um novo cenário produtivo. Youtube, Google, IBM são alguns exemplos paradigmáticos. Porém, o que há de peculiar neste cenário, é que boa parte deste novo modelo produtivo de informação, cultura e conhecimento extrapola o universo mercadológico. Estamos falando de ações coletivas que não se orientam pela necessidade de lucro, que não obedecem os modelos organizações das firmas.
É, justamente, na encruzilhada da possibilidade de exercitar maior liberdade e autonomia organizativa e de produzir uma cultura mais diversificada e livre que enxergo a iniciativa da Editora Plus. Uma editora que não depende do mercado para sobreviver, e que portanto não se baliza pela lógica de mercado para escolher suas publicações. Repito o exercício retórico que havia feito acima. Se há uma década, um grupo de pessoas se reunisse para fundar uma editora com o objetivo de publicar os mais diferentes autores, e distribuir suas publicações gratuitamente em todo o território nacional, teríamos certeza do insucesso desta iniciativa. Pois a Editora Plus existe.
AUTOR:LINEU OLIVEIRA,da Editora Plus
TEXTO EXTRAIDO DO SITE "LIVROS E AFINS"
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