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quinta-feira, 18 de março de 2010

uma mulher,uma musa!


Dostoievsky casou-se com sua taquigrafa,Machado tinha em Carolina uma revisora,Jorge Amado tinha em Zélia a sua primeira leitora e crítica,Saramago tem em Pilar Del Rio a sua musa.
Ele a chama “a sua casa”,reclama porque ela “tardou a chegar”,o fato é que a jornalista Pilar Del Rio,é a alma gêmea de José Saramago,há 23 anos.
Ela organiza seu trabalho e sua obra,traduz seus livros para o espanhol,fundou e dirige a Fundação José Saramago,é a amiga e conselheira de todas as horas.
Ele diz que Pilar o salvou da morte,não só pelo pronto atendimento que lhe deu no auge da crise,como porque ele sabia que tinha um porto a voltar.
Ela discorda dessa estória de musa; diz que “o escritor que,supostamente,tem uma musa,no fundo o que tem é um objeto que lhe facilita pensar ,o que sente por si próprio”.
Aos dez anos,Pilar era viciada em leitura;na sua aldeia,na Espanha,não tinha escolas e ela aprendeu lendo jornais.
A primeira palavra que soletrou foi Eisenhower.
Na adolescência começou a ler os russos,mas,ao contrário da maioria dos leitores,sempre se interessou mais pelos autores do que pelo livro em si.O autor levanta mundos com palavras,ela diz.
Sua paixão pelo jornalismo é sagrada,mas,sempre pesquisa a verdade dos fatos e quer saber tudo sobre os bastidores da notícia.O jornalismo deve procurar saber o porquê das coisas;deve ter uma visão crítica do mundo,completa.Hoje o jornalismo é servil,comprado,conformado.Imagine se ela conhecesse a fundo os nossos PIGs.
Inconformada,voltou-se para o jornalismo cultural;entrevistas,notícias literárias etc.
Seu encontro com Saramago deu-se numa livraria;ao ler o primeiro parágrafo do livro “Memorial do Convento”,apaixonou-se.
Eu,também;e,como Pilar sou fiel a ele até hoje.
As semelhanças entre a leitora e a esposa acabam ai.
Ela leu o livro numa semana;eu,em três dias.Ela o achava um gênio da crítica social.Eu o considero o maior escritor do século XX.
Como fiz,anos atrás,ela foi a Lisboa peregrinar pelos mesmos caminhos de Ricardo Reis,um dos heterônimos de Fernando Pessoa e protagonista do livro “O Ano da morte de Ricardo Reis”.
Depois encontrou Saramago,tomaram um café e leram juntos o “Livro do Desassossego”,de Pessoa. Visitaram Pessoa no cemitério dos Prazeres.( Só os portugueses para darem o nome de Prazeres a um cemitério!)Como vêem,Pessoa abençoou esse amor,nada desassossegado.
Foi uma paixão avassaladora.Saramago,já um escritor respeitado,viajava nove horas de carro só para vê-la em Sevilha.
Pilar é nome de rua em Azinhaga,cidade do Alentejo,onde Saramago nasceu.Uma forma maior de homenagear o poeta na pessoa que ele mais amou.
Ela acha que o leitor completa a obra do autor e o tradutor é quem se coloca ao lado do autor ,pois,traduz e interpreta seu pensamento.
Íntegra como os personagens femininos de Saramago,Pilar completa a vida do autor,pois,sendo a escrita um ato solitário,o escritor precisa de alguém que o ponha em contato com a rotina e resolva os problemas mais comezinhos por ele.
Ela confessa só ter um medo:que termine a vida física do seu marido.Sobre o amor que partilham,define como José:”contar com os dedos e ver a mão cheia.”
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